quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ser o primeiro, ... ser o último (XXV DTC - B)

Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse: "Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos." (Mc 9, 35)


domingo, 13 de setembro de 2009

Renuncie... e me siga (XXIV DTC - B)

Então Jesus chamou a multidão e os discípulos. E disse: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la." (Mc 8, 34-35)

No Evangelho de hoje (Mc 8, 27-35), Jesus conduz seus discípulos para uma região pagã, os povoados de Cesaréia de Filipe. Esse detalhe é importante, pois não é região controlada por Herodes. Além disso, o local fica longe de Jerusalém. Com isso, temos a seguinte constatação: A resposta de “Quem é Jesus?” deve estar isenta de influência vinda da opinião pública. Deve ser coisa pessoal.

Pedro, representante da comunidades dos discípulos e discípulas de Jesus, responde precisamente: “Tu és o Messias”. A resposta de Pedro marca o ponto alto do Evangelho de Marcos e, ao mesmo tempo, o reinicio da caminhada, com humildade, porque não bastam respostas, ainda que belas. Exige-se compromisso.

Depois do anuncio da Paixão, Pedro reage duramente às palavras de Jesus. Diz o Evangelho, "Então Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo." O momento é grave e tenso, e parece ser uma tentação sofrida por Jesus. Ele manda o satanás Pedro passar para trás dele (33b).

É interessante que mesmo chamando-o de Satanás, Jesus crê que Pedro poderá se tornar bom seguidor, mas como toda pessoa que deseja ser discípulo de Jesus terá de aprender o seguinte: não poderá seguir um messias feito sob sua medida, feito à sua imagem e semelhança, conforme seus interesses. Mas discípulo deve se tornar à imagem e semelhança do mestre. Deve aprender a dar a sua vida, através do serviço generoso aos mais necessitados. Ser discípulo de Jesus Messias, o Servo Sofredor, é fazer as mesmas coisas que ele fez para libertar o mundo da ganância e do egoísmo que mata.

Finalmente, Jesus revela que há apenas uma forma de ganhar a vida e salvá-la: doando-a, como ele mesmo o fez: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la."



Para refletir/comentar:
1. Quem é Jesus para a sociedade atual? E para mim e para minha comunidade?
2. O que significa “renunciar a si mesmo” numa sociedade marcada pelo culto à imagem, pelo supérfluo, pelo luxo e pela ganância?


Cristo meu Mestre e meu irmão:
sejamos de tal modo um,
desapareça eu mesmo de tal modo em ti,
que seja sempre tu
quem ensine,
quem pregue,
quem ore,
quem serve,
quem doe.


(Adaptação de uma oração de Dom Helder Câmara).



domingo, 6 de setembro de 2009

Abra-se! (XXIII DTC – B)

Depois [Jesus] olhou para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer: "Abra-se!"
O trecho do Evangelho de hoje demonstra que a ação de Jesus faz realizar o Reino de Deus no meio do povo. Na perspectiva da fé cristã, Jesus faz acontecer o que o profeta Isaias descreve na primeira leitura (Is 35, 4-7a).
"Com frequência a Bíblia descreve a situação do povo, fechado à palavra de Deus, como tendo-se tornado surdo e mudo, e assegura que a desobediência à palavra torna os lábios e os ouvidos inúteis. Quando volta uma época de obediência a Deus, imediatamente as línguas se soltam e proclamam a glória de Deus, como se todos profetizassem. Essas imagens revelam um verdade essencial: a nossa fé se apóia totalmente numa escuta da palavra de Deus e em sua vivência na prática. Ler ou proclamar a palavra de Deus significa reconhecer o primado de Deus em nossa vida. (...) O gesto de Jesus narrado pelo evangelho torna-se atual num gesto feito na Igreja para a iniciação dos catecúmenos. No rito do batismo, atualmente em vigor, o gesto do effata foi colocado no fim, entre os sinais de conclusão e de exortação. Enquanto toca os ouvidos e a boca do batizando, o celebrante diz: "O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, te conceda que possas logo ouvir a sua palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai." ... A palavra de Deus na Igreja depois do Concílio e da reforma litúrgica recuperou o lugar que compete: leitura da Bíblia, celebrações bíblicas, nova importância dada à liturgia da palavra." (Missal Dominical – Missal da Assembléia Cristã, São Paulo: Paulus, 1995, p. 1012-1013)
No meio de tantas vozes e barulhos que estamos expostos no dia-a-dia, o Evangelho de hoje nos questiona sobre o lugar que a voz – a palavra – de Deus ocupa em nossa vida pessoal, na vida da nossa comunidade e de toda a Igreja.
Para refletir/comentar:
  1. Partilhe como você e sua comunidade se relaciona com a palavra de Deus. Somos ainda surdos ou ouvintes ativos da Palavra?

Senhor Jesus,
tu que fizestes os surdos ouvirem e os mudos falarem,
abra os nossos ouvidos
para escutar a tua palavra de libertação e vida
para que assim, possamos professá-la
com nossa boca e nossa vida.
Amém.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

As coisas que saem de dentro (XXII DTC - B)

Em seguida, Jesus chamou de novo a multidão para perto dele e disse: "Escutem todos e compreendam: o que vem de fora e entra numa pessoa, não a torna impura; as coisas que saem de dentro da pessoa é que a tornam impura." (Mc 7, 14-15)




quinta-feira, 27 de agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

domingo, 9 de agosto de 2009

Eu sou o pão vivo (XIX DTC - B)

E Jesus continuou: "Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida."

(Jo 6, 51)



segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Pão da vida (XVIII DTC)

Jesus disse: "Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede." (Jo 6, 35)


domingo, 26 de julho de 2009

Agradeceu a Deus e distribuiu (XVII DTC)

Jesus pegou os pães, agradeceu a Deus e distribuiu aos que estavam sentados. Fez a mesma coisa com os peixes. E todos comeram o quanto queriam. (Jo 6, 11)







domingo, 19 de julho de 2009

Como ovelhas sem pastor (XVI DTC)

Quando saiu da barca, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão, porque eles estavam como ovelhas sem pastor. Então começou a ensinar muitas coisas para eles. (Mc 6, 34)




domingo, 12 de julho de 2009

Começou a enviá-los (XV DTC)

Jesus chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus. (Mc 6, 7)





segunda-feira, 6 de julho de 2009

Tanta sabedoria (XIV DTC)

Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: "De onde vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria?" (Mc 6, 1)






sábado, 27 de junho de 2009

Menina, levante-se! (XIII DTC)

Jesus pegou a menina pela mão e disse: "Talita cúmi", que quer dizer: "Menina, - eu lhe digo - levante-se!" (Mc 5, 41)

No Evangelho de hoje duas estórias foram custuradas juntas (Mc 5, 21-43). São estórias de duas mulheres. A primeira sofria de hemorragia há doze anos. A segunda, uma menina de doze anos, está à beira da morte. Outra coisa comum às duas personagens é o fato de que elas não têm nome. A primeira mulher se mostra ativa e corajosa e toca no manto de Jesus. A outra é recepiente da ação de Jesus que, tocando-a, a levanta do sono da morte. Uma lança luz sobre o destino da outra.

No tempo de Jesus as mulheres eram excluídas da vida social e religiosa pelo simples fato de ser mulheres. O fluxo menstrual trazia à vida de uma garota uma séries de restrições e proibições. Ainda mais excluída era uma mulher doente, proibida de tocar em qualquer pessoa (cf. Lv 15, 25-30). Ela era considerada impura. Doenças eram vistas como castigo de Deus. Portanto, a mulher que sofria de hemorragia era considerada impura e era assim banida da vida social e religiosa. A lei religiosa estabelecia uma rígida linha de divisão entre aqueles/as considerados/as saudáveis e puros/as e os/as que eram considerados/as doentes e impuros/as. Uma linha que dividia e excluía.

Esta mulher, no entanto, ouvindo falar de Jesus e movida pela fé nele, foi no meio da multidão, aproximou-se de Jesus por trás e tocou na roupa dele. A hemorragia parou imediatamente. Agindo assim, ela mostra coragem e ousadia, pois quebra a barreira da exclusão e isolamento. Seu gesto é contrário a lei que colocava limites entre o puro e o impuro. Quanto Jesus pede pela pessoa que o tocou, ela se apresenta a ele tremendo e, consciente de seu ato transgressor da lei sobre as impurezas, conta a ele toda a verdade. No que Jesus responde, "Minha filha, sua fé curou você. Vá em paz e fique curada dessa doença."

Na outra estória, é Jesus mesmo que quebra a barreira da exclusão e divisão. A menina que aos dozes anos está entrando para vida adulta entra no campo da exclusão pelo simples fato de ser mulher. Num certo sentido, aos doze anos ela começa a morrer. Ao tocar no corpo da menina morta, Jesus transgride a lei que proibia qualquer pessoa de tocar no corpo de uma pessoa morta. Do contrário, a pessoa se tornava impura. O Evangelho afirma que Jesus "pegou a menina pela mão e disse: 'Talita cúmi', menina levante-se!" Assim, o Evangelho de Marcos apresenta Jesus como superior a lei. Jesus é o Evangelho – a Boa-Notícia – de Deus que se revela a humanidade. Ele rompe as barreiras de divisão e restaura a vida humana. No caso de hoje, Jesus restabelece a vida e a dignidade destas duas mulheres. É bom lembrar que o verbo ἔγειρε no imperativo, traduzido como "levante-se," carrega o sentido de ressurreição. É o mesmo verbo usado muitas vezes para se referir a ressurreição de Jesus (cf. Gl 1, 1).


Para refletir/comentar:

1. Quais são as leis e os costumes que precisamos superar e vencer? 2. Qual é a Boa-Notícia que o Evangelho de hoje traz para as mulheres e para todas as pessoas segregadas e excluídas?


Senhor Jesus Cristo,
amigo das pessoas excluídas e marginalizadas,
dai-nos a fé e a coragem da mulher que sofria de hemorragia
e nos faz avançar em direção à liberdade e à vida digna.
Ensinai-nos a pegar nas mãos de todas as pessoas que encontramos
e transmitir à elas vossa força, ressurreição e vida.
Amém.




domingo, 21 de junho de 2009

Acalme-se (XII DTC)

Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: "Cale-se! Acalme-se!" (Mc 4, 39)

O trecho do Evangelho deste domingo (Mc 4, 35-41) faz parte de uma seção maior onde Jesus revela seu poder sobre a natureza, a possessão demoníaca (5, 1-20), a doença (5, 25-34) e a morte (5, 21 – 24, 35-43). A questão sobre a identidade de Jesus, fundamental no Evangelho de Marcos, aparece na expressão que encerra a passagem, quando os discípulos indagam, “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?”

“... No simbolismo da Bíblia, o mar, embora sujeito ao domínio de Deus, permanece um mundo cheio de mistérios e perigos, em virtude da profundidade de seus abismos, da amargura de suas águas, do perpétuo flutuar de suas ondas, de sua força destruidora quando se desencadeia. Por isso, torna-se também a mais eloqüente e eficaz imagem das forças do mal, orgulhosas e ameaçadoras, que encontram um plástico simbolismo nos míticos e fabulosos monstros que a fantasia popular coloca em seus abismos.” (Missal Dominical – Missal da Assembléia Cristã, Paulus, 1995, p. 939)

Ao controlar as forças da natureza, Jesus faz o mesmo que Deus faz quando derrota as forças que ameaçam a vida (cf. Sl 107, 23-32). A ordem de Jesus ao vento e ao mar, “Cale-se! Acalme-se!”, faz lembrar uma ordem semelhante dada por Jesus ao um espírito mau quando libertou um homem possuído por forças demoníacas (cf. 1, 25). O mar não só representa a instabilidade, o desconhecido e o caos, mas também as forças do mal que atentam contra a vida humana. Sobre elas, Jesus demonstra seu poder.

Ao questionar os discípulos dizendo, “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?”, Jesus faz a mais dura desaprovação aos díscipulos até o momento no Evangelho de Marcos. Não fica claro se o questionamento se refere a falta de fé nele ou em Deus. Se há falta de fé em Deus, os discípulos deveriam demostrar confiança em Deus, assim como Jesus demonstra (cf. 4, 38). Se há falta de fé em Jesus, os discípulos já deveriam confiar nele e não cair no desespero.

O mundo moderno em que vivemos é caracterizado pelo desenvolvimento científico e tecnológico que busca controlar as forças da natureza. No entanto, hoje, o mal que atenta contra a vida humana parece não estar no campo da natureza, mas nas ações egoísticas e gananciosas do ser humano, cujo apetite incontrolável de alguns coloca em risco a vida de tantos outros e o próprio mundo. Diante das ameaças de morte geradas pela ambição humana, o Evangelho de hoje nos consola e sustenta, afirmando que o poder de Deus em Jesus Cristo é vencedor de todas as forças do mal.


Para refletir/comentar:
1. Quais são as forças do mal que ameaçam a vida humana e sua comunidade em particular? 2. Como podemos superá-las? 3. “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?”

Senhor Jesus Cristo,
a quem até o vento e o mar obedecem,
daí-nos a serenidade e a confiança necessárias
para enfrentar os perigos e mal que atentam contra a beleza da vida.
Amém.




domingo, 14 de junho de 2009

O Reino (XI DTC)

O Reino de Deus é como um homem que espalha a semente na terra. (Mc 4, 26)

Neste domingo, retomamos a leitura do Evangelho de Marcos, dando assim continuidade ao Tempo Comum. A espiritualidade deste tempo é a espiritualidade do cotidiano e rotineiro. Ao invés de focar os grandes eventos da salvação, o Tempo Comum nos convida a prestar atenção aos fatos comuns do dia-a-dia e descobrir neles as sementes ocultas do Reino. Durante este tempo, as leituras do Evangelho proclamam as ações e os ensinamentos de Jesus.

Depois da parábola do Semeador, Jesus conta duas parábolas onde o Reino de Deus é comparado a semeadura e a semente (Mc 4, 26-34). Jesus questiona, "Com que coisa podemos comparar o Reino de Deus? Que parábola podemos usar?" E responde, "O Reino de Deus é como um homem que espalha a semente na terra", e ainda, "O Reino é como uma semente de mostarda." Notem, que Jesus compara (é como), mas não dá definições sobre o Reino. Ele usa metáforas para falar sobre o Reino, pois Reino não pode ser definido ou contido em formas racionais rígidas. O Reino é uma realidade dinâmica – é como um homem que espalha a semente -, e misteriosa, sobre a qual o homem não tem controle – a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontence. O Reino é ainda uma realidade surpreendente, universal e irreversível, que atinge seu fim de qualquer maneira, "... a mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra (...) quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos em sua sombra." Valendo-se de imagens comuns aos seus ouvintes da Galiléia, Jesus deseja despertar a imaginação criativa das pessoas. O Reino faz parte do mundo da imaginação, da utopia, do sonho. Isto não significa que ele não exista ou esteja distante, inacessível. Na verdade, ele é a força vital atrás da realidade que percebemos. O Reino tem haver com as aspirações mais profundas do ser humano, que são também aspirações de Deus.

Hoje, muitos sofrem de incapacidade poética, têm dificuldades de atiçar a imaginação criativa e não conseguem sonhar o sonho do Reino. Na sociedade capitalista nossos sonhos foram transformados em sonhos de consumo: produtos e serviços que prometem o que jamais podem realizar. "Sonhamos" os produtos que o mercado deseja que sonhamos. Parece que a propaganda nos roubou a capacidade de sonhar sonhos mais ousados. A mídia, atravé do marketing, domestica e controla nossa capacidade criativa e bloqueia imaginações mais ousadas. Assim, hoje, as parábolas do Reino provocam a nossa imaginação, a nosso poder de criar, inventar e re-inventar o novo. Para a pessoa de fé, o Reino não se rende. Ele está aí. Ele nos energiza, e nos dá capacidade de mover montanhas. O Reino é difícil de explicar racionalmente, mas é real. Ele é como...


Para refletir e comentar:

  1. Use sua imaginação poética e responda, "Com que coisa podemos comparar o Reino de Deus?" O Reino de Deus é como...


Senhor Jesus Cristo,
Semeador das sementes do Reino,
não permitas que nossa imaginação seja atrofiada.
Dai-nos capacidade de sonhar o sonho do Reino,
dinâmico, surpreedente e universal,
difícil de se expressar em conceitos rígidos,
mas tão real e necessário quanto o "pão nosso de cada dia."
Amém.


quinta-feira, 11 de junho de 2009

Corpus Christi

Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, o partiu, distribuiu a eles, e disse: "Tomem, isto é o meu corpo." (Mc 15, 22)

"O Cristianismo é, por excelência, a religião da unidade e da inclusão dos corpos. Em sua natureza semítica não há lugar para o dualismo platônico, que faz do corpo cárcere do espírito e, deste, o retrato em negativo da concupiscência da carne. No batismo, nosso corpo é lavado no sangue de Cristo. Na eucaristia, ele se nutre do corpo de Deus. No matrimônio, "numa só carne" os corpos se fundem no amor que transubstancia o carinho em liturgia e a sexualidade em fonte prazerosa de vida. No Credo, os cristãos professam a fé "na ressurreição da carne".

Assim, a fé cristã sacraliza a corporalidade humana, templo vivo de Deus, e repudia tudo aquilo que aprofana: opressão, exclusão, humilhação, violência, fome etc. Pois, em Jesus, Deus assume o corpo humano. "O Verbo fez-se carne", proclama o evangelho de João. A prática de Jesus caracterizou-se pelo resgate do corpo: se doente, é curado; se oprimido, libertado; se condenado, perdoado; se excluído, acolhido. E sempre amado.

Jesus deixou que tocassem seu corpo, a ponto de uma prostituta lavar-lhe os pés e enxugá-los com os cabelos, beijá-los e ungi-los com perfume (Lucas 7, 36-50). E fez de dois recursos indispensáveis à sobrevivência do corpo - a comida e a bebida, pão e vinho - sacramento, no qual o seu corpo eucarístico nos é dado como alimento para a vida eterna, desde que, agora, saibamos, no amor, testemunhar que a vida é terna.

Fazer silêncio dentro de si, deixar fluir a voz interior e tratar o semelhante como sacramento vivo, são cuidados do corpo. Abrir-se ao Deus que nos habita pela graça, pela fé e por essa fascinante história da evolução do Universo que, desde o Big Bang, culmina nesse fruto inefável da natureza que é cada um de nós. O corpo de Gaia também é corpo de Cristo. A Igreja deveria incluir entre os pecados a devastação de florestas, a poluição do ar e dos rios, a contaminação dos mares. Deveria clamar mais alto, não apenas em prol das espécies animais ameaçadas de extinção, mas sobretudo em favor da espécie mais degradada pela fome e pela violência: a humana.

Gente é para brilhar, canta o poeta. Se em nossa sociedade os corpos não brilham ou brilham só quando besuntados de cosméticos, e não banhados de luz interior, algo anda errado. A festa anual de Corpus Christi quer nos fazer recordar que corpo é copo, cálice, onde se bebe o vinho da alegria e da salvação, inserido no corpo místico e cósmico do Cristo.

Só haverá futuro digno quando todos os corpos viverem em comunhão, saciados da fome de pão e de beleza."
(Frei Betto)

Para refletir e comentar:
1. Qual é a mensagem fundamental de Corpus Christi?


Na verdade, vós sois santo e digno de louvor, ó Deus,
que amais os seres humanos e sempre os assistis no caminho da vida.
Na verdade, é bendito o vosso Filho, presente no meio de nós,
quando nos reunimos por seu amor.
Como outrora aos discípulos,
ele nos revela as Escrituras e parte o pão para nós.
- O vosso Filho permaneça entre nós!

(trecho da Oração Eucarística VI – D)

domingo, 7 de junho de 2009

Santíssima Trindade

... Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. (Mt 28, 19)

No domingo da Solenidade da Santíssima Trindade, nós refletimos a passagem que conclui o Evangelho de Mateus (Mt 28, 16-20). Seguindo a ordem de Jesus para retornarem a Galiléia, os onze apóstolos vêem Jesus Ressuscitado e o adoram. A montanha onde eles se encontram é um lugar simbólico, que remete ao Sinai e ao lugar onde Jesus proferiu o famoso sermão no evangelho de Mateus (cf. Mt, 5-7). O fato do evangelho afirmar que alguns duvidaram parece atestar que fé e dúvida sempre fizeram parte da caminhada da Igreja. Depois, Jesus se aproxima deles e diz, "Toda autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos..." Jesus ressuscitado, Senhor da história, recebe toda a autoridade do Pai e confere ao onze a missão de fazer com que todos os povos se tornem seus discípulos. Em seguida, ele explica como isso dever ser feito: "...batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo", e "...ensinado-os a observar tudo o que ordenei a vocês." Pelo batismo, nos tornamos participantes da vida divina e co-responsáveis pela missão de Jesus Cristo. A tarefa de ensinar o quê Jesus ordenou, nos faz voltar aos ensinamentos contido no evangelho, sobretudo ao Sermão da Montanha, onde as Bem-Aventuranças têm lugar central.

Os onze representam o primeiro núcleo da comunidade cristã. A missão de fazer discípulos que Jesus confere a eles é para todos nós. Ela é um chamado universal. Na Igreja, o ofício de ensinar é sempre urgente e requer o envolvimentos de todos. O ministério da Palavra, em toda sua diversidade, busca responder a este chamado. As palavras finais de Jesus no evangelho de Mateus nos conforta e anima, "Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo."

Para refletir e comentar: 1. O batismo no faz participantes da vida divina e da missão de Jesus Cristo. Como minha comunidade responde ao mandado de Jesus, "Vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos..."?


Bendito sejas vós Senhor Jesus, Emanuel, Deus-conosco,
por sempre nos acompanhar nos caminhos da história.
Vossa presença nos anima a seguir evangelizando segundo o vosso mandado,
e nos impulsiona a viver o dia-a-dia no espírito de vossas bem-aventuranças.
Por tudo isso, damos graças ao Pai,
em Cristo, nosso Senhor,
na unidade do Espírito Santo.
Amém.




segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ascensão do Senhor

Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. (Mc 16, 15)

O Evangelho da Solenidade da Ascensão do Senhor (Mc 16, 15-20) é parte do trecho 16, 9-20 do de Marcos e é considerado pelos estudiosos como um posterior acrécimo ao Evangelho. O comentário da Bíblia Sagrada - Edição Pastoral, explica de maneira sucinta esta passagem.

Este trecho difere muito do livro até aqui; por isso é considerado obra de outro autor. Os cristãos da primeira geração provavelmente quiseram completar o livro de Marcos com um resumo das aparições de Jesus e uma apresentação global da missão da Igreja. Parece que se inspiraram no último capítulo de Mateus (28,18-20), em Lucas (24,10-53), em João (20,11-23) e no início do livro dos Atos dos Apóstolos (1,4-14).
Embora seja acréscimo de retalhos tomados de outros escritos do Novo Testamento, o trecho conserva o pensamento de Marcos, isto é: os discípulos devem continuar a ação de Jesus.

Na Festa da Ascensão do Senhor, somos convidados a não ficarmos parados, fixados na imagem da ascensão, mas a sair e anunciar o Evangelho a toda a humanidade. A força do Espírito Santo, protagonista da ação evangelizadora, nos impulsiona a levar adiante a missão de Jesus Cristo, num mundo às vezes hostil, outras vezes indiferente à sua mensagem de solidariedade, justiça e paz.

Para refletir e partilhar:

1. O que significa para mim "Anunciar a Boa-Notícia"?


Deus de compaixão,
tu nos amaste e perdoaste em Cristo.
Tu reconciliaste toda a humanidade em teu amor redentor.
Olha com bondade todos aqueles que trabalham e rezam
pela unidade das Comunidades cristãs, ainda divididas.
Dá-lhes serem irmãos e irmãs em teu amor.
Possamos nós ser um, “um em tua mão”.

Amém.

(Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2009)





domingo, 17 de maio de 2009

Vocês são meus amigos (VI DTP)

Vocês são meus amigos... eu chamo vocês de amigos porque eu comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai. (Jo 15, 14-15)

O texto do Evangelho de hoje (Jo 15, 9-17) continua a reflexão de domingo passado, quando Jesus afirmou ser a vinha verdadeira, seu Pai o agricultor e seus discípulos os ramos. Agora, Jesus diz, "Assim como meu Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor" (Jo 15, 9). Todo aquele/a que permanece em Jesus produz fruto e o fruto é o amor. Não é, contudo, qualquer tipo de amor, mas o mesmo amor que flui do Pai para o Filho e do Fiho para a comunidade de seus discípulos/as. Tudo isso no Espírito.

Jesus é a expressão máxima do amor do Pai. Sua encarnação, vida, paixão, morte e ressurreição manifesta ao mundo a verdadeira face do amor. Não é um amor intimista, egoísta, ou superficial, voltado para si mesmo. O amor revelado em Jesus é o amor que liberta, dá vida e constrói comunhão. Para saber se um amor é verdadeiro, é só compará-lo com o amor de Jesus e seu ensinamento: "Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos (Jo 15, 13)."

Notem que Jesus chama os seus discípulos de amigos. Parece haver uma evolução da relação mestre-discípulo para a relação de amizade. Nesta altura do Evangelho, seus seguidores são chamados de amigos (φίλοι) e participam de sua intimidade e confiança, "... Eu chamo vocês de amigos, porque comuniquei a vocês tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15, 15). Jesus já havia demonstrado amor pelo seu amigo Lázaro (cf. Jo 11, 3. 11.36). E, na passagem deste mundo para o Pai, Jesus manifesta a totalidade do seu amor (cf. 13, 1). É oportuno lembrar que no Êxodo, Moisés é chamado de amigo de Deus, "Javé falava com Moisés face a face, como um homem fala com o amigo (Ex 33, 11). No Evangelho, Jesus refuta qualquer traço de dominação e servidão no relacionamento com ele (cf. Jo 15, 15) e promove o relacionamento de companheirismo e comunhão.

Amar se torna o mandamento-missão que Jesus confere a comunidade de seus discípulos-amigos, "... Amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês" (Jo 15, 12). Na força do Espírito, somos capazes de amar como Jesus amou, na doação e no serviço generoso ao próximo, pois é ele mesmo que ama em nós, fazendo-se amigo conosco e tornando nos amigos/as uns dos outros.


Partilha/Reflexão:

1. O mandamento de Jesus, "amem uns aos outros como eu amei vocês", te questiona, anima ou conforta?

2. Você percebe verdadeira relação de amizade nas comunidades cristãs? Como elas vivem o mandamento do amor?

3. O mundo parece carente de amor verdadeiro. Você concorda com isso? Por quê?

Senhor, irmão dos pobres e excluídos,
companheiro dos que buscam o Reino,
amigo dos seus discípulos-missionários,
ensinai-nos a viver o mandamento do amor.
Que vosso amor em nós, nos ajude a amar
de maneira livre, verdadeira e não egoista, e
assim, amar o próximo como vós mesmo nos ama.
Amém.




domingo, 10 de maio de 2009

Fiquem unidos a mim (V DTP)

Fiquem unidos a mim, e eu ficarei unido a vocês. (Jo 15, 4)

No evagelho de hoje, João usa outra imagem do Antigo Testamento para falar da relação entre Jesus e seus discípulos. No Antigo Testamento, Israel é retratada como a videira do Senhor (cf. Is 5, 1-7; 27, 2-6; Jr 2, 21; Sl 80, 8-15). No evangelho, Jesus fala de si como a verdadeira videira e o Pai como o agricultor. Jesus afirma a necessidade de cada discípulo estar unido a ele e produzir fruto. É bom lembrar que o trecho de hoje faz parte do último discurso de Jesus e ocorre durante a última ceia. Este discurso representa o testamento de Jesus ao seus discípulos. Ele afirma a unidade dos seguidores de Jesus a partir da união pessoal de cada discípulo com o Senhor e sua palavra.

O Evangelho de João usa o verbo grego μένω (menō) para comunicar a relação entre Jesus (a videira) e seus discípulos (os ramos). Este verbo aparece diversas vezes em todo evangelho e pode ser traduzido como permanecer, ficar, habitar, morar etc. Aqui, é traduzido como "ficar/estar unido." Logo no início do Evagelho, os discípulos de João Batista indagam Jesus: "Rabi, onde μένεις (moras, habitas, permaneces, ...)? Ao longo do evangelho, os leitores descobrem que a verdadeira morada de Jesus é o Pai. E o Pai mora (está unido) em Jesus e realiza suas obras (Cf. Jo 14, 10-11). Da mesma maneira, Jesus requer dos seus discípulos semelhante união. Ele diz, "Fiquem unidos a (morem, permaneçam em, ...) mim, e eu ficarei unido a (morarei, permanecerei em, ...) vocês." (Jo 15, 4).

Ao permanecer unidos à Jesus, os discípulos produzem fruto. Na verdade, Jesus afirma que o discípulo que não produz fruto será jogado fora como um ramo, e secará. Produzir fruto, portanto, é missão essencial do seguimento de Jesus. E para produzir fruto, o discípulo deverá ficar unido a (morar em) Jesus.


Ó Deus da Vida,
vós plantates a verdadeira videira, Jesus,
e dela cuidades com amor.
Ajudai nos a ficar unidos a vossa videira,
ser nutridos por ela e dar muito fruto,
frutos de justiça, verdade e paz.
Amém.



segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sou eu mesmo (III DTP)

Vejam minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo. (Lc 24, 39)

O Evangelho deste domingo começa com o relato sobre o retorno dos dois díscipulos de Emaús à Jerusalém: "Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão" (24, 35). De repente, Jesus aparece no meio deles e diz, "A paz esteja com vocês." Os discípulos ficaram espantados e cheios de medo, pois pensavam estar vendo um espírito (πνεῦμα). Em seguida, de todo modo Jesus mostra aos discípulos a realidade da sua ressurreição. "Vejam minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo. Toquem-me e vejam: um espírito (πνεῦμα) não tem carne e ossos, como vocês podem ver que eu tenho. E dizendo isso, Jesus mostrou as mãos e os pés" (24, 39-40). Depois, Jesus come um peixe grelhado diante deles.

Lucas enfatiza a realidade da ressurreição de Jesus. Jesus ressuscitado não é um espírito desencarnado e nem fruto da imaginação ou do delírio emocional dos discípulos. Ele não é um espírito, mas o mesmo Jesus de Nazaré que andou com eles de aldeia à aldeia na Galiléia, anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. O ressuscitado é o mesmo Jesus que por causa das suas palavras e ações foi crucificado e que ainda traz consigo as marcas da violência da cruz. A ressurreição não se contrapõe à realidade humana do Nazareno, mas a realiza totalmente. É interessante notar a realidade corpórea de Jesus, de "carne e osso." E esta realidade pode ser experimentada: "Vejam... olhem... toquem-me." Na ressurreição de Jesus o corpo não é negado, mas afirmado, "toquem-me."

Em seguida, assim como aos discípulos de Emaús, Jesus explica as Escrituras a comunidade reunida em Jerusalém. "Então Jesus abriu a mente deles para entenderem as Escrituras" (24, 45). Jesus mesmo faz a exegese dos textos bíblicos para os discípulos. Para Lucas, a leitura da bíblia a partir da ótica da ressurreição dá sentido ao sofrimento e a morte do Messias. A comunidade dará continuidade ao trabalho exegético de Jesus (cf. At 8, 26-40). E o estudo bíblico será parte fundamental da iniciação cristã.

Caberá ainda a comunidade cristã anunciar no nome de Jesus "a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém." (24, 47). Finalmente, Jesus afirma, "E vocês serão testemunhas (μάρτυρες) disso." (24, 48)

Bendito sejas, Senhor Deus,
pela ressurreição de Jesus de Nazaré,
seu Filho e nosso irmão.
Bendito sejas, pela verdade que hoje Ele nos comunica:
"Vejam minhas mãos e meus pés:
sou eu mesmo."
Bendito sejas, pela missão que Ele confia a sua comunidade primitiva e a nós:
"E vocês serão testemunhas disso."
Amém. Aleluia.



sábado, 11 de abril de 2009

Vigília Pascal

"Transbordamos de alegria pascal,
porque hoje o Cristo, nossa Páscoa, foi imolado;
morrendo destruiu a morte,
e ressurgindo deu-nos a vida."


(Prefácio da Páscoa)





sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sexta-Feira Santa

... 'Tudo está realizado.' E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. (Jo 19, 30)

Cantar a Paixão do Senhor

É, primeiro,
cantar o pranto de uma perda irreparável,
cantar a dor e o protesto do inocente injustiçado,
cantar a tristeza, sem fim, d'Aquele que
"veio para o que era seu e os seus não o receberam"(Jo 1,11)…

É, nas suas chagas,
Prantear as dores de todos os oprimidos da terra,
Nos quais continua a Paixão, pois,
"Todas as vezes que fizerdes isto a um destes meus irmãos,
mais pequeninos,foi a mim mesmo que o fizestes" (Mt 25,40)

É, depois,
Cantar a confiança do Servo Sofredor,
Que se entregou, sem reservas, nas mãos d'Aquele que o pode livrar
"do poder do inimigo e do opressor" (Sl 31,16)
e aguardar com ânimo forte e resistente a sua salvação.

É, nesta confiança sem limites, que o canto nos inspira,
Abandonar-nos em Cristo nas mãos do Pai, para a realização dos seus desígnos:
"Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46)

É, finalmente,
Cantar a vitória do Amor e a glória d'Aquele que
"Se fez por nós obediente até a morte e morte de cruz.
Por isso Deus o exaltou…" (Fl 2,8-9)…
(Hinário Litúrgico - CNBB)


Senhor Jesus Cristo,
por vossa paixão e morte,
fazei-nos mais solidários e compassivos
com todas as sofredoras e sofredores da Terra.
Amém.


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quinta-feira Santa

Então, Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos... (Jo 13, 4-5)

"João salienta o gesto de Jesus lavando os pés dos seus e deixando, como seu testamento em palavra e exemplo, fazer-se o mesmo entre os irmãos. Não ordena repetir um rito, mas fazer como ele, isto é, refazer em todo tempo e em toda comunidade, gestos de serviço mútuo - não padronizados, mas nascidos da criatividade daquele que ama -, através dos quais torne-se presente o amor supremo do Cristo pelos seus ("amou-os até o fim"). Todo gesto de amor se torna, portanto, "sacramento", isto é, visibilização, encarnação, linguagem simbólica, da única realidade: amor do Pai em Cristo, o amor, em Cristo, de todos os que crêem."
(Extraído do Missal Dominical - Missal da Assembléia Cristã, Paulus)


Senhor Jesus Cristo,
Servo e Senhor,
ajudai-nos a viver o mistério da Eucaristia,
no serviço generoso aos irmãos e irmãs,
sobretudo, aos mais pobres e excluídos.
Amém.




domingo, 5 de abril de 2009

Ramos e Paixão - B

...De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus! (Mc 15, 29)

Hoje celebramos a abertura da Semana Santa. A liturgia nos oferece duas leituras evangélicas que se contrastam e se complementam. Na primeira leitura (Mc 11, 1-10 ou Jo 12, 12-16) ouvimos sobre a entrada de Jesus em Jerusalém sob os gritos da multidão aclamando: "Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!" A leitura apresenta Jesus como o Rei-Messias que entra em Jerusalém para ser glorificado (c.f. Jo 12, 16). Já aqui, vemos sinais sobre que tipo de Messias Jesus realmente é. Ele não entra na Cidade Santa montado num cavalo de guerra ou como um rei que necessita de um exército para reinforçar suas leis e impor seus planos de poder. Ele entra sim, montado num jumentinho, como um homem simples e pacífico.

A segunda leitura, a narrativa da paixão segundo Marcos (14,1-15,47), apresenta o conflito decisivo e final entre Jesus e as autoridades do seu tempo. Ela também revela a incompreensão dos discípulos sobre Jesus e sua missão. A realidade da cruz choca e escandaliza. Jesus parece não corresponder mais à imagem do tão esperando Messias-Rei-Libertador. Jesus, Servo-Messias-Sofredor, é praticamente abandonado na cruz. Todavia, um centurião romano, figura improvável (pagão, não discípulo, etc), presenciando o último suspiro de Jesus na cruz, professa sua fé e declara, " ...De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus!" Esta profissão de fé se torna modelo para o verdadeiro discípulo de Jesus; reconhecer no Crucificado, a Boa Notícia, o Messias, o Filho de Deus, conforme anunciado no primeiro versículo do Evangelho de Marcos.



Ó Pai,
celebrando com fé
a memória da entrada do vosso Filho em Jerusalém,
seguimos os passos de nosso Salvador para que,
associados pela graça à sua cruz,
participemos também de sua ressurreição e de sua vida.
Por Cristo,
nosso Senhor.
Amém.




domingo, 29 de março de 2009

Glorificado (V DQ - B)

Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. (Jo 12, 23)

A passagem de hoje (Jo 12, 20-32) marca uma virada fundamental no Evangelho de João. Até neste momento da narrativa, Jesus fala, em diversas vezes, sobre a sua "hora." Logo no início do Evangelho, na Bodas de Caná, Jesus afirma categoricamente à sua mãe dizendo, "Mulher... minha hora inda não chegou" (2, 4). Mais adiante, Jesus diz à samaritana, "Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora..." (4, 23). Em outras duas ocasiões, quando Jesus estava ensinando no Templo, o autor do Evangelho de João afirma, "Então tentaram prender Jesus. Mas ninguém pôs a mão em cima dele, porque a hora dele ainda não tinha chegado" (7, 30) e, "E ninguém o prendeu, porque a hora dele ainda não havia chegado" (8, 20). Mas, no trecho de hoje, ouvimos Jesus declarar claramente, "Chegou a hora..." Afinal, que "hora" é esta da qual Jesus e o Evangelho tanto fala? Jesus mesmo explica, "... a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado."

Aqui, aparece outra palavra-chave da Teologia Joanina: δοξασθῇ (doxasthēi), ser glorificado, do verbo δοξάζω (doxazō), glorificar, do substantivo feminino δόξα (doxa), glória. A expressão "a glória do Senhor" é muito usada no Antigo Testamento para falar sobre a presença poderosa e libertadora de Deus no meio do Povo, na Tenda, no Templo, na Criação, etc (Cf. Ex 16, 10; Nm 14, 10; Ez 43, 4; Sl 19, 2). Já no prológo do Evangelho de João implica-se que a glória de Deus está presente na Palavra Encarnada, "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade" (1, 14). Se olharmos a atividade de Jesus, vemos que nela a glória de Deus se torna visível (Cf. 2, 11; 11, 4, 40). No entanto, a manifestação plena da glória de Deus em Jesus Cristo se dá num momento particular, ou melhor, numa hora específica: na hora em que o Filho do Homem é levantado/crucificado (3, 14). É exatamente nesta "hora", na hora da cruz, em que a glória de Deus é totalmente revelada e Jesus é, então, glorificado, atraindo todos para ele (Cf. 12, 32). Jesus mesmo diz, "...Foi precisamente para esta hora que eu vim" (12, 28).

Para João, Jesus Crucificado é a manifestação inequívoca e plena da glória do Senhor. Seu Evangelho apresenta a cruz como o auge da ação amorosa e libertadora de Jesus. Na hora da cruz, Jesus é glorificado e o mundo, julgado (cf. 12, 31). Talvez, seja importante deixar claro que a cruz de Jesus não é, de maneira alguma, uma exaltação da violência ou do sofrimento masoquista. Seria uma contradição! Jesus sempre promoveu a vida (Jo 10, 10) e até ficou perturbado diante do sofrimento a ser infligido sobre ele (12, 27). O quê o Evangelho de João proclama é que em Jesus Crucificado se dá a glorificação do amor; do amor-doação, do amor-serviço, do amor salvador e libertador. A morte de Jesus na cruz não é sinal de derrota ou fracasso, mas sinal de coragem, fidelidade e vitória; vitória do amor-não-egoísta, que liberta e dá vida. Assim, a hora em que o Filho do Homem é crucificado é também a hora em que Ele é glorificado.



Senhor Jesus Cristo,
ajudai-nos a ver na vossa vida, paixão e morte
os sinais da páscoa;
sinais da ressurreição,
da vitória do amor e da vida.
Amém.



domingo, 22 de março de 2009

Acreditar (IV DQ - B)

Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna. (Jo 3, 15)

O Evangelho de hoje (Jo 3, 14-21) precisa ser entendido sob a ótica do batismo. Embora nesta passagem não haja menção explícita sobre o rito batismal pela água, o tema do batismo é o pano de fundo da conversa de Jesus com Nicodemos. A passagem lida com a questão da qualidade da fé (crer) de quem está sendo batizado. Nela, o verbo πιστεύω (pisteuō), acreditar, aparece 5 vezes e 98 vezes em todo Evangelho de João. É uma palavra-chave que serve não apenas para entendermos a passagem de hoje, mas toda a Teologia Joanina.

Em todo Evangelho de João, as pessoas que encontram Jesus (Nicodemos, a Samaritana, o Funcionário do Rei, o Cego de Nascença) são questionadas a respeito de sua fé (acreditar) e são chamadas há uma decisão de vida, acreditar ou não em Jesus. No trecho de hoje, vemos que acreditar em Jesus está totalmente associado com o mistério de sua paixão/glorificação na cruz. "Assim, como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna" (3, 14-15). Portanto, acreditar em Jesus implica numa entrega total a ele, assim como ele se entregou totalmente, na cruz, pelo mundo.

De acordo com professor Demetrius Dumm, OSB, “É tentador pensar que acreditar em Cristo significa simplesmente afirmar o Credo, ou admitir que Jesus existiu, operou milagres, morreu e ressuscitou dos mortos. Aceitar estas verdades são importantes, mas isto não é o quê “acreditar” significa nesta passagem. Na verdade, uma pessoa pode sinceramente afirmar todos estes fatos teoricamente e continuar a viver egoisticamente. Acreditar nAquele que ‘foi levantado’ significa nada menos do que fazer sua auto-oferenda parte de nossa própria vida, através do cuidado pelo outro; significa viver de maneira não egoísta. Esta é a única maneira de fé (crer) que nos dará vida eterna” (minha tradução e meus destaques).


Senhor Jesus Cristo,
Ajudai-me a crer em vós,
Não somente com os lábios,
com a inteligência ou com as emoções,
Mas com os pés, com as mãos,
pela via de uma vida não egoísta,
pela via da reconciliação e da libertação,
enfim, pela via da entrega total no amor.
Amém.




domingo, 15 de março de 2009

Templo (III DQ - B)

Destruam esse Templo, e em três dias eu o levantarei. (Jo 2, 19)

Situada em Jerusalém e perto da Páscoa, a passagem de João 2, 13-22 retrata a atitude de Jesus diante do Templo. Nos Evangelhos sinóticos, a limpeza do Templo aparece pouco antes da sua paixão. Neles, esta ação dramática de Jesus, que se mostra cheio de indignação, é vista como o estopim que leva as autoridades a buscarem sua prisão e condenação.

Já em João, esta cena aparece logo no início do Evangelho, retrabalhada para servir suas perspectivas teológicas. Primeiro, a passagem serve para demonstrar a oposição das autoridades judaicas à Jesus desde do início do seu ministério, demonstrando a intrínsica incompatibilidade entre eles. Segundo, o trecho serve para anunciar que o verdadeiro Templo, onde Deus agora habita, é o corpo de Jesus; que será destruído pelas autoridades, mas que ressuscitará.

Assim, o Templo de Jerusalém, que havia sido convertido em οἶκον ἐμπορίου (lit. casa de empório), casa de comércio, é substituído pelo corpo de Jesus, lugar do verdadeiro encontro e comunhão com Deus.


Senhor Jesus Cristo,
vós sois o novo Templo de Deus levantado entre nós.
Concedei-nos semelhante indignação profética
que vos levastes a limpar o Templo de Jerusalém.
Queremos construir uma humanidade
livre de toda forma de exploração econômica.
Que o Templo do vosso corpo
nos leve a uma constante comunhão com Pai
e com os nossos irmãos e irmãs.
Isto vos pedimos,
na força do vosso Espírito.
Amém.



sábado, 7 de março de 2009

Se transfigurou (II DQ - B)

E se transfigurou diante deles. (Mc 9, 2b)

Apenas uma palavra carrega uma variedade de sentidos. Vemos isto no caso da palavra μετεμορφώθη (metemorphōthē), traduzida no versículo acima como “se transfigurou.” Ela deriva do verbo grego μετα-μορφόω (meta-morphoō), literalmente “mudar de forma,” ou, “trans-formar.” Notem que temos no português o verbo “meta-morfosear,” diretamente derivado do grego. Assim, poderíamos dizer que Jesus “se metamorfoseou diante deles.”


O verbo metamorfosear carrega o sentido de mudança de forma, de estrutura. A imagem da lagarta ilustra bem este conceito. A lagarta se metamorfoseia/transfigura numa borboleta. Ela sofre uma mudança de forma, de aparência, sem contuto, perder sua essência. Talvez, poderíamos dizer que a lagarta se transfigura naquilo que ela verdadeiramente é.


Além do paralelo em Mt 17, 2, temos também o uso do mesmo verbo nas seguintes passagens: Romanos 12, 2, “Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se (metamorfoseiem-se) pela renovação da mente, afim de distinguir qual é a vontade de Deus...”; e em 2 Coríntios 3, 18, “E nós que, com a face descoberta, refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados (metamorfoseados) nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente pela ação do Senhor, que é Espírito.” Vale a pena conferir o contexto destas passagens. Aqui, queremos apenas ampliar o conceito do verbo transfigurar, para torná-lo mais compreensível e mais próximo da nossa experiência.


Senhor Jesus Cristo,
vós que se transformastes diante de Pedro, Tiago e João,
ajudai-nos a viver esta quaresma
como um tempo oportuno
para uma verdadeira metamorfose interior,
que nos leve a transfigurar o mundo
pela ação da justiça e do amor.
Amém.



domingo, 1 de março de 2009

Deserto (I DQ - B)

Em seguida, o Espírito impeliu Jesus para o deserto. (Mc 1, 12)

Ao remoer esta frase do Evangelho, descobrimos o sentido mais profundo de suas palavras. “Em seguida” é a tradução da expressão grega kαὶ εὐθὺς (conjunção e advérbio, respectivamente), literalmente, “e em linha direta/reta”, geralmente traduzida como “e imediatamente.” O advérbio εὐθὺς é muito usado no Evangelho de Marcos: 43 vezes! Sendo 11 vezes, apenas no primeiro capítulo. Ele ecoa a mensagem da voz profética de Mc 1: 3, “... Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. “Endireitem” é a tradução de εὐθείας ποιεῖτε, literalmente, “façam direitas” (façam em linhas retas) suas estradas.” Assim temos, “Em linha direta/imediatamente, o Espírito impeliu Jesus para o deserto. A repetição desta expressão “em linha direta” (ou imediatamente) confere sentido de urgência à narrativa do Evangelho. Vejam: “Eles imediatamente deixaram suas redes,” (1:18); “Jesus imediatamente os chamou,” (1:20); “imediatamente, no sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar,” (1:21); “Imediatamente, estava na sinagoga um homem possuído...” (1: 23); etc.

Já a palavra “deserto”, ἔρημον, evoca forte simbolismo bíblico, que tem raiz na experiência do Povo de Deus narrada no livro do Êxodo (13, 17ss). O deserto é um lugar teológico. Ele representa a passagem (páscoa) que o Povo fez da escravidão do Egito à liberdade da Terra Prometida. Ele foi o lugar da tentação, do desânimo e até da idolatria. Mas, foi também o lugar onde Deus falou, corrigiu e orientou. Antes de chegar à Terra Prometida, no deserto, o Povo precisou aprender a ser livre, a não olhar para trás e a construir “uma outra sociedade possível.” Além disso, o deserto foi o lugar da Aliança com o Deus Libertador, onde o Povo, já não mais escravo, decidiu livremente selar a aliança com o Deus da Vida, adquirindo uma nova identidade, “... Se me obedecerem e observarem a minha aliança, vocês serão minha propriedade especial entre todos os povos... Serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19, 5-6).

Finalmente, notem que é o Espírito que move Jesus para o deserto; o mesmo Espírito que acabara de descer sobre ele no batismo (1: 10). Aqui, o Espírito é o sujeito. E ele, ao levar Jesus para deserto, o prepara para a missão evangelizadora.

Na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo, a jornada quaresmal retoma e atualiza a experiência de Jesus Cristo no deserto e revive a jornada do Povo de Deus. Hoje a missão da Igreja não é menos urgente de que outrora, basta atentar-se para tantas “Galiléias,” que suspiram e anseiam por boas notícias. Ao conduzir-nos para o deserto, o Espírito nos desafia a encarar os nossos demônios interiores e exteriores para sermos “pascalizados,” isto é, transformados, pelas águas do batismo, no Cristo Ressuscitado.

Ó Espírito de ousadia e ternura,
vós que imediatamente impelistes Jesus para o deserto,
impulsionai-nos também para o deserto quaresmal.
Que esta quaresma faça ressurgir em nós,
a imagem do próprio Cristo,
que o batismo um dia nos conferiu.
Pelo mesmo Cristo, nosso Senhor.
Amém.




quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quarta-feira de Cinzas

Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno é compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo." (Jl 2, 12-13)


É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação. (2 Cor 6, 2)

...Quando deres esmolha, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita.
...Quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto.
...Quando tu jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto. (Mt 6, 3;6;17)


Ó Pai, vós que vedes o que está oculto,
concedei-me nesta quaresma e sempre:
confiança para abrir minha mão e partilhar;
serenidade para parar, entrar no meu quarto e rezar;
e equilíbrio para refrear-me de todo excesso.
Neste tempo, desejo perfumar minha cabeça
e lavar o meu rosto
em vista da celebração da Páscoa do vosso Filho.
Que vive e reina para sempre.
Amém.


"Convertei-vos e crede no Evangelho."

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Levante-se (VII DTC - B)

"... Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa." (Mc 2, 11)

Nós, leitores/ouvintes do Evangelho de hoje, podemos nos ver nas personagens desta bela passagem de Marcos 2, 1-12:
No paralítico, sem forças para andar, privado da liberdade de ir e vir, sem autonomia, e que tem necessidade, primeiramente, de ser curado/perdoado de uma ferida/paralisia invisível.

No grupo de amigos, que motivados por uma fé criativa não se deixam abater, mas enfrentam os obstáculos e fazem descer o paralítico até Jesus.

Nos doutores da Lei, que ao invés de se alegrarem com o poder de Deus operando em Jesus, escolhem se apegarem à uma visão estreita de religião, cujos dogmas não levam mais à experiência do Deus verdadeiro, do Deus da Vida.

Em Jesus, que reconhece a fé do grupo de amigos e é canal do perdão de Deus, capaz de restaurar a vida integral deste homem, devolvendo a ele a dignidade de "caminhar com os próprios pés."

E, finalmente, na multidão, que vê tudo e exclama louvando a Deus, "Nunca vimos uma coisa assim!"

Passando das personagens às palavras, verificamos que a força libertadora de Jesus parece estar nas palavras que ele dirige ao paralítico, "Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa."

Levante-se é a tradução do imperativo gregro "ἔγειρε." É a mesma palavra que encontramos em: Mc 3, 3, quando Jesus chama o homem de mão seca e diz, "Levante-se e vem para o meio"; Mc 5, 41, quando Jesus desperta do sono da morte a filha de Jairo, "Menina, levante-se"; e Mc 10, 49, quando disseram ao cego Bartimeu (modelo do verdadeiro discípulo), "Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você."

Além disso, esta palavra vem do mesmo verbo usado para expressar a mensagem fundamental da fé cristã. Quando as mulherem foram, na madrugada do primeiro dia da semana, até o túmulo onde o corpo de Jesus havia sido colocado, ouviram o jovem dizer, "Vocês estão procurando Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou!" (Mc 16,6) Em grego, ἠγέρθη, literalmente, "Ele levantou!" (ou, está levantado), isto é, "Ele ressuscitou!" já que o vergo grego indica também o sentido de voltar à vida, como vimos no caso da filha de Jairo.

Então, levantar, erguer, elevar, pôr em posição ereta ou tornar a viver (no sentido literal e metafórico) carrega o sentido de ressuscitar, de participar da ressurreição, da vida nova de Jesus.
Em cada "levantar'' experimentamos, de alguma forma, as palavras do Evangelho. E, a cada dia, celebramos a páscoa, a ressurreição, o levantar de Jesus Cristo que se manifesta em nossa vida.


Ó Pai,
queremos ouvir novamente
a voz do teu Filho que diz:
Levante-se!
Que a força da tua Palavra
nos faça passar da paralisia à ação,
da morte à vida.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.




quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Palavra Nossa

O objetivo deste blog é ligar Palavra e vida, vida e Palavra. Espero que ele possa contribuir, de alguma forma, para uma espiritualidade bíblica. A idéia é postar uma pequena reflexão a cada domingo, dia do Senhor. Seja sempre bem-vindo (a). Participe com comentários, partilhas e sugestões.

Paz.

"Da mesma forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, assim acontece com a minha palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei." (Is 55, 10-11)


Pai nosso
Pão nosso
Palavra nossa

Seja feita
Nos dai hoje
Agora e na hora

Amém.