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domingo, 5 de abril de 2009

Ramos e Paixão - B

...De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus! (Mc 15, 29)

Hoje celebramos a abertura da Semana Santa. A liturgia nos oferece duas leituras evangélicas que se contrastam e se complementam. Na primeira leitura (Mc 11, 1-10 ou Jo 12, 12-16) ouvimos sobre a entrada de Jesus em Jerusalém sob os gritos da multidão aclamando: "Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!" A leitura apresenta Jesus como o Rei-Messias que entra em Jerusalém para ser glorificado (c.f. Jo 12, 16). Já aqui, vemos sinais sobre que tipo de Messias Jesus realmente é. Ele não entra na Cidade Santa montado num cavalo de guerra ou como um rei que necessita de um exército para reinforçar suas leis e impor seus planos de poder. Ele entra sim, montado num jumentinho, como um homem simples e pacífico.

A segunda leitura, a narrativa da paixão segundo Marcos (14,1-15,47), apresenta o conflito decisivo e final entre Jesus e as autoridades do seu tempo. Ela também revela a incompreensão dos discípulos sobre Jesus e sua missão. A realidade da cruz choca e escandaliza. Jesus parece não corresponder mais à imagem do tão esperando Messias-Rei-Libertador. Jesus, Servo-Messias-Sofredor, é praticamente abandonado na cruz. Todavia, um centurião romano, figura improvável (pagão, não discípulo, etc), presenciando o último suspiro de Jesus na cruz, professa sua fé e declara, " ...De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus!" Esta profissão de fé se torna modelo para o verdadeiro discípulo de Jesus; reconhecer no Crucificado, a Boa Notícia, o Messias, o Filho de Deus, conforme anunciado no primeiro versículo do Evangelho de Marcos.



Ó Pai,
celebrando com fé
a memória da entrada do vosso Filho em Jerusalém,
seguimos os passos de nosso Salvador para que,
associados pela graça à sua cruz,
participemos também de sua ressurreição e de sua vida.
Por Cristo,
nosso Senhor.
Amém.




domingo, 29 de março de 2009

Glorificado (V DQ - B)

Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. (Jo 12, 23)

A passagem de hoje (Jo 12, 20-32) marca uma virada fundamental no Evangelho de João. Até neste momento da narrativa, Jesus fala, em diversas vezes, sobre a sua "hora." Logo no início do Evangelho, na Bodas de Caná, Jesus afirma categoricamente à sua mãe dizendo, "Mulher... minha hora inda não chegou" (2, 4). Mais adiante, Jesus diz à samaritana, "Mulher, acredite em mim. Está chegando a hora..." (4, 23). Em outras duas ocasiões, quando Jesus estava ensinando no Templo, o autor do Evangelho de João afirma, "Então tentaram prender Jesus. Mas ninguém pôs a mão em cima dele, porque a hora dele ainda não tinha chegado" (7, 30) e, "E ninguém o prendeu, porque a hora dele ainda não havia chegado" (8, 20). Mas, no trecho de hoje, ouvimos Jesus declarar claramente, "Chegou a hora..." Afinal, que "hora" é esta da qual Jesus e o Evangelho tanto fala? Jesus mesmo explica, "... a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado."

Aqui, aparece outra palavra-chave da Teologia Joanina: δοξασθῇ (doxasthēi), ser glorificado, do verbo δοξάζω (doxazō), glorificar, do substantivo feminino δόξα (doxa), glória. A expressão "a glória do Senhor" é muito usada no Antigo Testamento para falar sobre a presença poderosa e libertadora de Deus no meio do Povo, na Tenda, no Templo, na Criação, etc (Cf. Ex 16, 10; Nm 14, 10; Ez 43, 4; Sl 19, 2). Já no prológo do Evangelho de João implica-se que a glória de Deus está presente na Palavra Encarnada, "E a Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio de amor e fidelidade" (1, 14). Se olharmos a atividade de Jesus, vemos que nela a glória de Deus se torna visível (Cf. 2, 11; 11, 4, 40). No entanto, a manifestação plena da glória de Deus em Jesus Cristo se dá num momento particular, ou melhor, numa hora específica: na hora em que o Filho do Homem é levantado/crucificado (3, 14). É exatamente nesta "hora", na hora da cruz, em que a glória de Deus é totalmente revelada e Jesus é, então, glorificado, atraindo todos para ele (Cf. 12, 32). Jesus mesmo diz, "...Foi precisamente para esta hora que eu vim" (12, 28).

Para João, Jesus Crucificado é a manifestação inequívoca e plena da glória do Senhor. Seu Evangelho apresenta a cruz como o auge da ação amorosa e libertadora de Jesus. Na hora da cruz, Jesus é glorificado e o mundo, julgado (cf. 12, 31). Talvez, seja importante deixar claro que a cruz de Jesus não é, de maneira alguma, uma exaltação da violência ou do sofrimento masoquista. Seria uma contradição! Jesus sempre promoveu a vida (Jo 10, 10) e até ficou perturbado diante do sofrimento a ser infligido sobre ele (12, 27). O quê o Evangelho de João proclama é que em Jesus Crucificado se dá a glorificação do amor; do amor-doação, do amor-serviço, do amor salvador e libertador. A morte de Jesus na cruz não é sinal de derrota ou fracasso, mas sinal de coragem, fidelidade e vitória; vitória do amor-não-egoísta, que liberta e dá vida. Assim, a hora em que o Filho do Homem é crucificado é também a hora em que Ele é glorificado.



Senhor Jesus Cristo,
ajudai-nos a ver na vossa vida, paixão e morte
os sinais da páscoa;
sinais da ressurreição,
da vitória do amor e da vida.
Amém.