Ao remoer esta frase do Evangelho, descobrimos o sentido mais profundo de suas palavras. “Em seguida” é a tradução da expressão grega kαὶ εὐθὺς (conjunção e advérbio, respectivamente), literalmente, “e em linha direta/reta”, geralmente traduzida como “e imediatamente.” O advérbio εὐθὺς é muito usado no Evangelho de Marcos: 43 vezes! Sendo 11 vezes, apenas no primeiro capítulo. Ele ecoa a mensagem da voz profética de Mc 1: 3, “... Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. “Endireitem” é a tradução de εὐθείας ποιεῖτε, literalmente, “façam direitas” (façam em linhas retas) suas estradas.” Assim temos, “Em linha direta/imediatamente, o Espírito impeliu Jesus para o deserto. A repetição desta expressão “em linha direta” (ou imediatamente) confere sentido de urgência à narrativa do Evangelho. Vejam: “Eles imediatamente deixaram suas redes,” (1:18); “Jesus imediatamente os chamou,” (1:20); “imediatamente, no sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar,” (1:21); “Imediatamente, estava na sinagoga um homem possuído...” (1: 23); etc.
Já a palavra “deserto”, ἔρημον, evoca forte simbolismo bíblico, que tem raiz na experiência do Povo de Deus narrada no livro do Êxodo (13, 17ss). O deserto é um lugar teológico. Ele representa a passagem (páscoa) que o Povo fez da escravidão do Egito à liberdade da Terra Prometida. Ele foi o lugar da tentação, do desânimo e até da idolatria. Mas, foi também o lugar onde Deus falou, corrigiu e orientou. Antes de chegar à Terra Prometida, no deserto, o Povo precisou aprender a ser livre, a não olhar para trás e a construir “uma outra sociedade possível.” Além disso, o deserto foi o lugar da Aliança com o Deus Libertador, onde o Povo, já não mais escravo, decidiu livremente selar a aliança com o Deus da Vida, adquirindo uma nova identidade, “... Se me obedecerem e observarem a minha aliança, vocês serão minha propriedade especial entre todos os povos... Serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19, 5-6).
Finalmente, notem que é o Espírito que move Jesus para o deserto; o mesmo Espírito que acabara de descer sobre ele no batismo (1: 10). Aqui, o Espírito é o sujeito. E ele, ao levar Jesus para deserto, o prepara para a missão evangelizadora.
Na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo, a jornada quaresmal retoma e atualiza a experiência de Jesus Cristo no deserto e revive a jornada do Povo de Deus. Hoje a missão da Igreja não é menos urgente de que outrora, basta atentar-se para tantas “Galiléias,” que suspiram e anseiam por boas notícias. Ao conduzir-nos para o deserto, o Espírito nos desafia a encarar os nossos demônios interiores e exteriores para sermos “pascalizados,” isto é, transformados, pelas águas do batismo, no Cristo Ressuscitado.
Ó Espírito de ousadia e ternura,
vós que imediatamente impelistes Jesus para o deserto,
impulsionai-nos também para o deserto quaresmal.
Que esta quaresma faça ressurgir em nós,
a imagem do próprio Cristo,
que o batismo um dia nos conferiu.
Pelo mesmo Cristo, nosso Senhor.
Amém.
Hello Pe. Jonas !. Tudo bem ? Espero que sim. Aqui tudo ótimo graças a Deus.
ResponderExcluirQue bom que você está ,de um certo modo nos dando um estudo Bíblico também. Adorei, pois gosto muito de ler e refletir sobre a palavra de Deus o que me ajuda demais na minha caminhada cristã. Vou continuar lendo. Você continua sendo uma pessoa especial, que pensa em todos.
Thank you for ererything!
Tereza Brandão
Que alegria poder partilhar novamente de suas reflexões, elas me ajudam no crescimento Cristão, fiquei esperando até domingo cedo por esta postagem mas ainda não estava, pois celebrei à tarde e queria conhecer um pouco mais sobre esta passagem.
ResponderExcluirObrigada por pensar em nós,leigos!
Abraços,
Sâmia