quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Dia de Ação de Graças

"Um deles, vendo-se curado, voltou atrás... e agradeceu Jesus." (Lc 17, 15-16)

Durante sua jornada para Jerusalém, dez leprosos vão ao  encontro de Jesus e parando a uma certa distância gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós". Ao vê-los, Jesus pede para irem se apresentarem aos sacerdotes. Eles obedecem a palavra de Jesus e, no caminho, percebem que estão limpos. Se parasse aqui, esse episódio poderia ser visto apenas como mais um dos sinais poderosos realizados por Jesus no evangelho de Lucas.  Mas a história continua. Um dos dez leprosos, ao perceber-se curado, volta atrás glorificando a Deus em alta voz. E, ao aproximar-se de Jesus, num gesto que para nós hoje parece extravagante, ele se joga por terra e, prostrado aos pés de Jesus, lhe agradece (εὐχαριστῶν). Há ainda um elemento surpresa. O que volta e agradece é um samaritano, um marginalizado! Então Jesus faz três questionamentos: "Não foram dez os purificados? Onde estão os outros? Ninguém voltou para dar glória a Deus, salvo esse estrangeiro?" E diz ao samaritano: "Levante-se e vá! sua fé o salvou".  

O encontro com os dez leprosos se dá durante a viagem de Jesus com seus discípulos para Jerusalém, quando ele vai instruindo os seus seguidores sobre o discipulado cristão. Nesse caminho, o samaritano, um estrangeiro marginalizado, torna-se modelo de uma fé que salva, pois sabe louvar a Deus, fonte de todo bem, e agradecer a Jesus que o curou. Ser discípulo/a de Jesus não é algo que construímos meramente com nossos esforços. Antes, seguir a Jesus é uma resposta alegre e gratuita a misericórdia de Deus que em Jesus Cristo nos salva. A comunidade dos seguidores de Jesus é chamada a continuamente "voltar atrás" e "dar graças a Jesus", reconhecendo seus gestos de vida e libertação, que nos purificam e restauram nossa vida. Voltar e agradecer é reconhecer a Deus como centro de tudo que somos e temos. A fé alicerçada na gratidão salva. 

A dinâmica da vida moderna nos empurra freneticamente para frente, na ânsia permanente de realizar os nossos desejos sempre mais ambiciosos. Sem tempo, consciência e coragem de voltar atrás e agradecer, esquecemos que chegamos onde chegamos graças à muitos que vieram antes de nós. Ainda mais grave, somos levados a acreditar que tudo que somos e conquistamos é resultado apenas de nosso esforço individual. Com isso, esquecemos que neste mundo a gente não apenas vive, mas convive.  A vida humana só é possível numa rede delicada de relações que nos une e nos sustenta no universo e na história. A vida é pura gratuidade e agradecer é reconhecê-la como χάρις, graça. A história da cura dos dez leprosos nos indica que o caminho cristão percorre-se no louvor e na gratidão. A "fé que salva" nunca cessa de dar graças e reconhecer a Deus como fundamento de todas as coisas. Em outras palavras, a fé cristã é sempre εὐχαριστία (eucaristia), ou seja, ação de graças.  Agradecer a Jesus como o samaritano, é renunciar a toda pretenção egoísta e abrir-se a uma vida vivida na profunda gratidão e na liberdade de quem reconhece ter sido amado, acolhido e restaurado por ele. 

"Grande, eu proclamo, és meus Deus,
Sempre irei te louvar.
Teu nome eu vou bendizer,
Todo dia eu vou cantar! Sl 145 (144) 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

“...Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz.”


Cristo Rei (Ano B):  –  Dn 7,13-14; Sl 93(92); Ap 1,5-8; João 18,33b-37


O evangelho pertence ao relato da paixão de Jesus Cristo e acentua que sua realeza se manifesta na entrega por amor. A pergunta de Pilatos, “Tu és o rei dos judeus?”, coloca o processo na dimensão política. Havia a expectativa de um rei Messias, que iria restaurar a soberania de Israel. O título “rei dos judeus” (19,19) é fixado no alto da cruz, como causa da sentença de sua morte. Mas Jesus é o Messias Servo, que morre na cruz em consequência de seu compromisso com a justiça do Reino. Enviado pelo Pai a serviço da vida (10,10), ele manifesta que seu Reino não é deste mundo. Jesus testemunha a verdade através da doação total da vida por amor. Pertencer à verdade de Cristo consiste em crer e praticar a Palavra, reconhecendo sua realeza no serviço aos necessitados. A verdade que o Filho de Deus manifestou é um apelo à conversão: se permanecerdes na minha palavra conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres (8,31-32).

A 1ª leitura utiliza linguagem apocalíptica para falar da ação de Deus, com rosto humano, oposta aos reinos opressores. A figura do Filho do Homem foi associada, pela tradição cristã, a Jesus como Messias. O salmo celebra a realeza do Senhor que criou o universo e o governa com soberania. A 2ª leitura sintetiza a missão de Jesus por meio de três títulos messiânicos: Testemunha fiel, Primogênito dos mortos e Príncipe dos reis da terra. Jesus deu a vida para formar um povo sacerdotal, pois é o princípio e o fim de toda a criação.

Cristo é o Senhor do universo, pois instaurou o reinado da verdade, com a doação da própria vida. Como povo sacerdotal, continuadores do amor fiel de Jesus, recebemos a missão de servir o Reino da justiça, amor e paz, oposto a toda forma de ambição, poder, riqueza e privilégio.

(Extraído da Revista de Liturgia)
Para refletir e partilhar:
01. O que mais lhe chamou atenção no Evangelho? Comente a figura acima: qual é a sua relação com o Evangelho?
02. Que tipo de rei é Jesus? Como ele é diferente dos poderosos deste mundo?
03. O que significa seguir Jesus Rei, que "instaurou o reinado na verdade, com a doação da própria vida"?
04. Sinto-me parte do Reino que Jesus veio inaugurar? O que faço? O que poderia fazer mais ou melhor pelo Reino de Deus?

Oração 

Deus da vida,
tu quiseste reunir e reconciliar toda a tua criação no teu filho Jesus,
a quem proclamamos amigo e servidor dos pobres,
Senhor do universo e da história. Escuta nossas preces
e concede a todas as criaturas, libertas de toda escravidão,
a graça de servir ao teu reino e glorificar sempre teu nome santo,
bendito pelos séculos dos séculos. 
Amém.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

“...O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão.”


XXXIII Dom TC (Ano B):  –  Dn 12,1-3; Sl 16(15); Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32.


O evangelho reflete um contexto assinalado por conflitos, sobretudo a guerra judaica (66-73 d.C), marcada pela destruição do templo e da cidade de Jerusalém. Renasce a tradição profética e apocalíptica, com a esperança de um tempo novo de salvação. A manifestação gloriosa de Jesus é descrita com a fé pascal: após a grande tribulação, verão o Filho do Homem vindo entre nuvens com grande poder e glória. Jesus é a luz que vence as trevas da opressão e da morte através da ressurreição. Sua presença de paz estabelecerá definitivamente o Reino de Deus, já revelado com sua vida. A espera da revelação plena do Reino deve ser ativa, como mostra a imagem da figueira (cf. vv. 28-29). Os ramos verdes e as folhas que brotam são sinais da ação de Deus nos acontecimentos da história. As palavras de Jesus não passarão, pois seu valor é eterno. Foram guardadas pelos primeiros cristãos e permanecem para revigorar o compromisso a serviço do Reino.

A 1ª leitura fala da esperança de salvação. A promessa da ressurreição impele a viver a justiça em meio às perseguições, por causa da fidelidade à aliança. Jesus, vencendo a morte pela ressurreição, realiza plenamente a esperança da vida eterna. O/a salmista expressa a confiança no Deus da vida que não abandona o justo na morte. A experiência da comunhão faz vislumbrar a felicidade no Reino celeste. Cristo com uma única oferenda levou à perfeição definitiva os que ele santifica (2ª leitura). A fé proporciona participar da obra redentora de Cristo e viver a vida nova.

O Reino de Deus, anunciado por Jesus, deve continuar sendo construído pela prática da solidariedade. É necessário estarmos atentos para perceber os sinais de salvação. Deixemo-nos conduzir pelas palavras de Cristo, para permanecermos no caminho de fidelidade a seu projeto.

(Extraído da Revista de Liturgia)

Oração 

Deus da paz,
enche nossa vida com a alegria de te servir
com um coração indiviso
e faze-nos experimentar profundamente
a felicidade de trabalhar por ti, criador de tudo, e por teu reino. 
Por Cristo, nosso Senhor. 

Amém



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

“...Ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver.”




Jesus está no templo de Jerusalém, centro da vida e religião de Israel, lugar onde as pessoas costumavam fazer suas oferendas e sacrifícios. A palavra de Jesus ilumina a tomar cuidado com os que devoram as casas das viúvas, enquanto ostentam longas orações (cf. v.40). As viúvas, além de marginalizadas, eram exploradas com frequência (cf. Is 1,23; 10,2). Por isso enquanto observa como a multidão depositava as moedas no cofre, Jesus enaltece a ação de uma viúva pobre que ofereceu duas moedinhas, isto é, um quadrante (valor mínimo em circulação). Essa viúva generosa e confiante na graça divina é apresentada por Jesus como modelo no caminho do discipulado. Sua atitude é elogiada porque ela ofereceu tudo o que tinha para viver (cf. v.44), não apenas o excedente como os outros. A ação da viúva ao colocar toda a vida nas mãos do Pai, é comparada com a oferta total de Cristo, por amor.

A viúva anônima da entrada do templo lembra a de Sarepta, que ofereceu hospitalidade e partilhou o pouco alimento que possuía (1ª leitura). A esperança na palavra de Deus suscita gestos solidários que asseguram a sobrevivência durante a seca, no tempo do profeta Elias (séc. IX a.C.). O salmo convida a confiar no Deus da vida que ampara a viúva e o órfão e confunde os caminhos dos opressores. A 2ª leitura ressalta que Cristo oferece sua vida pela redenção da humanidade, transcendendo os sacrifícios que anualmente eram repetidos no dia do Grande Perdão (Yom Kippur, cf. Lv 16).

Cristo, mediante a doação plena da vida, mostrou o caminho do amor solidário. Que a força profética de sua palavra sustente o nosso compromisso de sermos generosos como a viúva do templo e a de Sarepta. A partilha da vida e dos bens expressa fidelidade ao projeto de Deus.

(Extraído da Revista de Liturgia)
Para refletir e partilhar:
01. O que essa pobre viúva nos ensina com o seu gesto?
02. Você vive sua vida como doação a Deus e ao próximo? De que forma?
03. Quais pessoas são exemplo de doação de si mesmas?

Oração 

Deus de bondade e de ternura,
afasta de nós toda acomodação e instalação,
para que possamos, de coração disponível,
nos dedicar ao serviço do teu reino. 
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.