II Dom Quaresma (Ano B): – Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18; Sl 115(116B); Rm 8,31b- 34; Mc 9,2-10.
A transfiguração é um desvelar-se provisório do
mistério de Jesus para três testemunhas privilegiadas, uma antecipação da
ressurreição. Várias imagens desta cena nos reportam à manifestação de Deus a
Israel em Êxodo 24,9-18: o monte, os seis dias, os três acompanhantes, o
esplendor, a visão, a nuvem. Elias, profeta, e Moisés, a principal
testemunha daquela aliança, agora se tornam testemunhas da glória de
Jesus. É toda uma alusão ao êxodo e à aliança de Deus com o seu povo, firmada
agora na pessoa de Jesus.
O relato da transfiguração, situado entre dois
anúncios da paixão, quer revelar aos discípulos que o destino do Messias é a
glória, mas o caminho é a cruz. Marcos ressalta a incompreensão dos discípulos
(v. 6) e lembra que só há um caminho: ouvir e seguir Jesus. O mais importante é
o testemunho do Pai, como no batismo do Jordão, focalizando a pessoa de Jesus
em quem os discípulos devem crer. Para os discípulos, significa aceitar a cruz,
o que implica uma mudança radical no modo de pensar e de viver.
A reação dos discípulos diante da cruz é a reação de
qualquer ser humano. Diante da doença, ou do fracasso, ou da morte, nós nos
perguntamos: “Por que isso? Se Deus existe, por que o mal”? Cada “porquê” é a
expressão de um “porquê” mais profundo sobre o sentido da vida, que se torna
explícito em certos momentos da existência quando somos forçados a fazer um
julgamento sobre a nossa vida e sobre o mundo.
Deus não quer o sofrimento; em Jesus ele vence a dor e
a morte e não nos quer resignados. E no entanto, há um sofrimento que não
podemos evitar, aquele que nos faz sair de nós mesmos e nos educa ao amor e à
solidariedade. Ter domínio de si, perdoar, ser feliz, apesar de tudo, recomeçar
depois de cada fracasso, aceitar nossos próprios limites e os de quem convive
conosco, praticar a não-violência em um mundo cheio de violência... Tudo custa,
mas sem isso não podemos crescer como pessoas. A partir desta ótica, podemos
descobrir o desígnio de Deus até mesmo no sofrimento mais absurdo. O Cristo
transfigurado, com roupas resplandecentes, é a resposta ao Cristo despido na
cruz. O caminho cristão é um caminho de seguimento de Jesus, de ser filho(a) no
Filho, de amar dando a vida.
(Extraído do Dia do Senhor)
Para refletir e partilhar:
01. Considerando que o caminho de Jesus para a glória passa pela cruz, partilhe sobre sua cruz e como você dá sentido a ela.
02. No contexto de sofrimento e dificuldade, o que significa ouvir e seguir Jesus Cristo?
Oração
Ó Senhor, nosso Deus,
que nos mandaste ouvir o teu
Filho muito amado,
alimenta-nos sempre com a tua
palavra,
para que, com fé firme e pura,
tenhamos nossa alegria na glória
de Cristo,
por quem te pedimos,
na unidade do Espírito Santo.
Amém.