"Um deles, vendo-se curado, voltou atrás... e agradeceu Jesus." (Lc 17, 15-16)
Durante sua jornada para Jerusalém, dez leprosos vão ao encontro de Jesus e parando a uma certa distância gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós". Ao vê-los, Jesus pede para irem se apresentarem aos sacerdotes. Eles obedecem a palavra de Jesus e, no caminho, percebem que estão limpos. Se parasse aqui, esse episódio poderia ser visto apenas como mais um dos sinais poderosos realizados por Jesus no evangelho de Lucas. Mas a história continua. Um dos dez leprosos, ao perceber-se curado, volta atrás glorificando a Deus em alta voz. E, ao aproximar-se de Jesus, num gesto que para nós hoje parece extravagante, ele se joga por terra e, prostrado aos pés de Jesus, lhe agradece (εὐχαριστῶν). Há ainda um elemento surpresa. O que volta e agradece é um samaritano, um marginalizado! Então Jesus faz três questionamentos: "Não foram dez os purificados? Onde estão os outros? Ninguém voltou para dar glória a Deus, salvo esse estrangeiro?" E diz ao samaritano: "Levante-se e vá! sua fé o salvou".
O encontro com os dez leprosos se dá durante a viagem de Jesus com seus discípulos para Jerusalém, quando ele vai instruindo os seus seguidores sobre o discipulado cristão. Nesse caminho, o samaritano, um estrangeiro marginalizado, torna-se modelo de uma fé que salva, pois sabe louvar a Deus, fonte de todo bem, e agradecer a Jesus que o curou. Ser discípulo/a de Jesus não é algo que construímos meramente com nossos esforços. Antes, seguir a Jesus é uma resposta alegre e gratuita a misericórdia de Deus que em Jesus Cristo nos salva. A comunidade dos seguidores de Jesus é chamada a continuamente "voltar atrás" e "dar graças a Jesus", reconhecendo seus gestos de vida e libertação, que nos purificam e restauram nossa vida. Voltar e agradecer é reconhecer a Deus como centro de tudo que somos e temos. A fé alicerçada na gratidão salva.
A dinâmica da vida moderna nos empurra freneticamente para frente, na ânsia permanente de realizar os nossos desejos sempre mais ambiciosos. Sem tempo, consciência e coragem de voltar atrás e agradecer, esquecemos que chegamos onde chegamos graças à muitos que vieram antes de nós. Ainda mais grave, somos levados a acreditar que tudo que somos e conquistamos é resultado apenas de nosso esforço individual. Com isso, esquecemos que neste mundo a gente não apenas vive, mas convive. A vida humana só é possível numa rede delicada de relações que nos une e nos sustenta no universo e na história. A vida é pura gratuidade e agradecer é reconhecê-la como χάρις, graça. A história da cura dos dez leprosos nos indica que o caminho cristão percorre-se no louvor e na gratidão. A "fé que salva" nunca cessa de dar graças e reconhecer a Deus como fundamento de todas as coisas. Em outras palavras, a fé cristã é sempre εὐχαριστία (eucaristia), ou seja, ação de graças. Agradecer a Jesus como o samaritano, é renunciar a toda pretenção egoísta e abrir-se a uma vida vivida na profunda gratidão e na liberdade de quem reconhece ter sido amado, acolhido e restaurado por ele.
"Grande, eu proclamo, és meus Deus,
Sempre irei te louvar.
Teu nome eu vou bendizer,
Todo dia eu vou cantar! Sl 145 (144)
"Grande, eu proclamo, és meus Deus,
Sempre irei te louvar.
Teu nome eu vou bendizer,
Todo dia eu vou cantar! Sl 145 (144)
O Evangelho/texto tocou-me profundamente, já fui um dos nove leprosos, hoje minha fé não vai ao encontro de tudo de BOM que acontece e sim em tudo que acontece. Deus está comigo e a Ele entrego minhas alegrias e sofrimentos. O que ontem foi amargura/tristeza, hoje é com certeza bênçãos que Ele me concedeu. Mesmo que seja por alguns instantes elevo meus olhos aos céus, dobro meus joelhos e agradeço!
ResponderExcluirCeli