V Dom Quaresma (Ano B): – Jr 31,31-34; Sl 50(51); Hb 5,7-9; Jo 12,20-33.
Estamos diante de um texto central do evangelho de
João. O contexto é a festa da páscoa, daí a presença de gente de fora,
“gregos”, simpatizantes do judaísmo, que vieram para participar da festa. Todos
correm atrás de Jesus (v. 19), mas ele sabe que deve, primeiro, ser exaltado na
cruz. Jesus anuncia a hora e a descreve em forma de parábola: um grão de trigo
que cai na terra e morre para produzir fruto. Os cristãos, iniciados no caminho
de Jesus, entendiam esta palavra, os gregos certamente não. Depois, vem a
explicação: quem torna a própria vida objeto último do seu compromisso anda por
caminho errado. A máxima realização humana é ser capaz de ultrapassar os
limites da própria acomodação para estar a serviço dos irmãos.
A hora de Jesus não é espetacular, coincide com a sua
exaltação, que é, antes de tudo, elevação na cruz (v.32-33). Embora João
coloque a morte de Jesus como glorificação, ele não esconde o drama humano da
sua existência, o drama da obediência ao Pai. A glorificação de Deus em Cristo
é a obediência até o fim. Esta hora de Jesus, no evangelho de João, corresponde
ao Getsêmani (cf. Mc 14,41).
Neste quinto domingo da quaresma, aproximando-nos da
páscoa, estamos face a face com o núcleo do mistério da nossa fé. Diante de
Jesus na cruz, cada um(a) se encontra sozinho(a). Ficamos diante do único
caminho que pode nos levar à plena realização humana: dizer sim ao amor que é
capaz de dar a vida, como um grão que cai na terra.
(Extraído do Dia do Senhor)
Para refletir e partilhar:
01. Você vive a vida como um sim ao amor que é capaz de dar a sua vida, como um grão que cai na terra?
02. Quais aos frutos que sua comunidade produz por viver a vida cristã como serviço e doação?
03. Quais são as pessoas que hoje te inspiram a viver esta Palavra? Como elas te inspiram?
IV Dom Quaresma (Ano B): –2Cr
36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21.
A conversa de Jesus com Nicodemos assume a conotação de
um diálogo com o judaísmo oficial de Jerusalém no tempo em que o evangelho de
João foi escrito, depois da exclusão dos cristãos da sinagoga. Mostra que “os
mestres em Israel”, apesar do entendimento que têm das Escrituras, pouco
entendem sobre o reino e não nasceram da água e do Espírito (v. 5), sinais,
para os cristãos, da iniciação no caminho de Jesus pelo batismo. Nicodemos está
diante da chance única de fazer o caminho de um novo nascimento. Sozinho não
pode entender, precisa receber a revelação de Jesus, aquele que vem do alto
para tornar-se “filho da humanidade” e que foi exaltado na cruz.
João recorre ao Antigo Testamento para mostrar que, do
mesmo modo que no tempo de Moisés, a serpente foi um sinal de libertação para o
povo no deserto, para a comunidade cristã este sinal é Jesus, crucificado e
glorificado. Ao mesmo tempo ele é o dom do amor de Deus à humanidade. Deus
envia o seu Filho para que a humanidade tenha, já nesta terra, a vida eterna.
No confronto com ele, o mundo se divide em duas categorias: os que aceitam a
sua luz e os que a rejeitam pelo medo de encarar a própria vida na sua
luminosidade. É um julgamento.
A quaresma nos
coloca diante do gesto supremo do amor de Deus realizado na existência humana
de Jesus. Diante do seu gesto, não podemos ficar indiferentes. A sua luz revela
a nossa verdade, e então, dependendo da escolha que fizermos, entramos na vida
ou no apagamento de uma vida sem sentido, que se arrasta centrada em nossos
pequenos interesses. Trata-se de agir movido por Deus, o que significa amor
concreto, cada dia, como Jesus que amou sempre e até o fim.
(Extraído do Dia do Senhor)
Oração
Ó Pai, fonte de luz e de vida,
por teu filho Jesus Cristo
reconciliaste a humanidade
dividida.
Arranca de nós toda a sombra de
tristeza
e liberta-nos totalmente para que
caminhemos cheios de alegria
III Dom Quaresma (Ano B): –Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25.
A proximidade da páscoa, com o seu grande consumo de
animais, fazia com que o átrio do templo de Jerusalém se convertesse em um
estábulo. Além disso, para o tributo do templo, o povo tinha que trocar
dinheiro. Neste contexto e contra esses abusos, Jesus, continuando a tradição
dos grandes profetas do povo de Israel, desde Natã até Jeremias, de
desconfiança e crítica profética ao templo, realizou uma ação simbólica para
expressar um oráculo e uma palavra de Deus. Assim, ele cumpriu a profecia de Zc
14,21, que anunciava o dia em que não haveria mais mercadores no templo do
Senhor. O gesto de Jesus é apresentado como o anúncio da superação do templo e
da introdução de uma nova compreensão de culto a Deus, baseado na obediência ao
Pai. O lugar da verdadeira adoração de Deus não será mais o templo de
Jerusalém, comprometido com os poderes do mundo, mas o templo do seu corpo
martirizado e glorificado.
O(a) discípulo(a) de Jesus é convidado(a), na
quaresma, a retomar este núcleo central da relação com Deus, a aliança com o
Cristo, nova morada de Deus entre o seu povo. A prática de seus ensinamentos,
em continuidade com o proclamado e o anunciado no domingo passado ( "Este
é meu filho amado, escutem o que ele diz!"), torna-se a nova forma de
adorarmos a Deus e constitui a essência do culto cristão. Como não cessavam de
lembrar os pais da Igreja, "a prática da justiça constitue os sacrifícios
que fazemos a Deus; o afastamento dos crimes, a forma com que nos reconciliamos
com Deus; tirar um homem do perigo que lhe ameaça, a vítima mais preciosa que
podemos imolar a Deus, de forma que, quanto mais se é justo, mais se é
religioso" (Minúcio Félix).
Dessa forma, a comunidade dos que creem em Jesus, como
corpo de Cristo, é o novo templo de Deus. E a assembleia da comunidade reunida
para a celebração torna-se o lugar de realização desta adoração em espírito e
verdade, onde ressoa a palavra do evangelho e onde se faz a memória subversiva
da prática de Jesus, que não se apegou à sua vida, mas se deu em serviço de
amor a seus irmãos.
(Extraído do Dia do Senhor)
Para refletir e partilhar:
01. Como a frase, "... Quanto mais se é justo, mais se é religioso." Como isso ocorre na vida da Jesus? E na sua?
02. O que significa praticar a justiça no mundo de hoje?
03. Como você entende a frase, "o zelo por tua casa me consumirá"?
Oração
Ó Deus, fonte de todo bem,
quiseste que dedicássemos este
tempo quaresmal
à fraternidade, à oração e à
renúncia de nós mesmos,
para que, fazendo morrer o pecado
em nós,
fôssemos, por tua misericórdia, recriados
para uma vida nova.