XXVIII Dom TC (Ano B): –Sab 7,7- 11; Salmo 90(89); Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-30
Jesus, com seus discípulos, encontra-se em caminhada para
Jerusalém. Essa viagem tem, sobretudo, uma finalidade pedagógica. O episódio
do homem rico vem proporcionar uma oportunidade especial para Jesus esclarecer
qual a relação que seus seguidores devem ter com os bens materiais. O homem
rico é representativo de todos os que se consideravam justos por cumprir a lei
de Deus, conforme as orientações do sistema religioso oficial. A mentalidade
dominante via na riqueza o sinal concreto de bênção divina (teologia da
retribuição). Aquele homem estava convencido disso e dirige-se a Jesus cheio
de confiança em seus próprios méritos. Ele corre e ajoelha-se diante de
Jesus. Demonstra que estava ansioso por encontrar-se com o “bom Mestre” para ser
confirmado em sua mentalidade e em suas atitudes. Jesus, porém, o desarma já
de início (talvez por perceber uma intenção de bajula- ção): “Ninguém é
bom a não ser Deus”.
O homem manifesta preocupação com a conquista da vida
eterna. Considera-se uma pessoa justa, um judeu perfeito e, portanto, em seu íntimo
espera que Jesus lhe diga que está no rumo certo. De fato, no primeiro
momento, Jesus o interpela sobre o caminho indicado pelos mandamentos. Porém,
cita somente aqueles que se referem à relação com o próximo, acrescentando
“não defraudes ninguém”. É uma indicação de que os muitos bens que o homem
possuía eram resultado da defraudação dos bens devidos aos outros. Cai por
terra a concepção teológica de que o acúmulo seria sinal de bênção
divina. Estaria o homem disposto a entrar na dinâmica da teologia do Reino de
Deus?
Jesus lhe demonstra muito amor mostrando-lhe como poderia
ser verdadeiramente livre, sábio e justo: “Vai, vende o que tens, dá aos
pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. Como se vê,
enquanto o homem está preocupado com a vida eterna para si mesmo, Jesus
preocupa-se com os seres humanos que neste mundo não possuem o necessário
para viver. A vida eterna está garantida para quem segue a Jesus na prática
do amor com as pessoas necessitadas. É no serviço abnegado ao próximo que
encontramos a plena realização já neste mundo. Assim contribuímos na construção
de uma sociedade nova – o Reino de Deus –, que se fundamenta nas relações de
justiça e de fraternidade. Para isso, precisamos vencer o grande empecilho que
é o apego aos bens materiais. Aquele homem rico não conseguiu dar o passo de
aceitar o convite de Jesus, tornar-se seu discípulo e ter um tesouro no céu.
Decepcionado com o desfecho do diálogo com Jesus, foi-se embora entristecido,
“pois era possuidor de muitos bens”. Apesar de ser cumpridor das leis
religiosas oficiais, demonstrou que seu deus era o dinheiro.
Jesus continua a aprofundar a reflexão com seus
discípulos: “Como é difícil a quem tem ri- quezas entrar no Reino de Deus...
É mais fácil um camelo entrar pelo fundo da agulha...”. O contraste evidente
entre o camelo e o buraco de uma agulha mostra a impossibilidade de um rico de
renunciar às seguranças e ao poder que a riqueza lhe dá para promover a
justiça social. O espanto dos discípulos revela que também eles ainda estão
imersos na mesma lógica do homem rico: “Então, quem pode ser salvo?”. A
resposta que Jesus lhes dá ressalta que a graça de Deus pode proporcionar a
conversão também para os ricos, “pois para Deus tudo é possível”.
Aos discípulos que deixam tudo para segui-lo, Jesus lhes
garante que usufruirão dos benefícios do Reino de Deus, isto é, da sociedade
justa e fraterna. Nela não haverá discriminação nem miséria e, sim,
acolhida, afeto, partilha e vida em abundância para todos e, “no mundo futuro,
a vida eterna”. É uma proposta construída pelos que se fazem últimos e
servos de todos e contradiz (por isso atrai perseguição) a dos primeiros (ricos
e poderosos). Todos estão convidados por Jesus a desvencilhar-se da
escravidão do dinheiro para tornarem-se agentes de um novo mundo. Esse é o
jeito sábio de viver.
O caminho do discipulado requer o desprendimento para
colocar a vida e os bens a serviço do Reino. Conduzidos pelo olhar amoroso de
Jesus, possamos viver a confiança total no Pai, na comunhão e partilha com os
irmãos necessitados.
(Extraído da Revista: Vida Pastoral)
Para refletir e partilhar
1. Como é a minha relação com os bens materiais? Vivo a partilha ou o acúmulo?
2. Por que a riqueza é um obstáculo para entrar no Reino de Deus?
3. O que fazer concretamente para cuidar dos bens da criação e promover um mundo mais justo e fraterno?
Oração
Deus, mãe de consolação,
nós te pedimos que tua graça
sempre nos guie e nos acompanhe,
para que sejamos atentos e firmes
na prática da caridade e dos teus
mandamentos.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.
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