II Dom. Quaresma
(Ano A): Gn
12, 1-4ª; Sl 32 (33); 2Tm 1, 8b-10; Mt 17, 1-9.
Escrito sobre o pano de fundo do relato da conclusão da aliança no Sinai
(Ex 24,1-18), no qual aparece o símbolo da shekiná
para designar a presença e a habitação de Deus junto ao seu povo, o relato da
transfiguração foi organizado para mostrar que Jesus, por sua paixão e
ressurreição, é a nova shekiná, tenda
e morada de Deus para os seus discípulos. Daí o jogo simbólico com o qual se
tece o texto: Jesus resplende de luz; a nuvem cobre o monte tal como antes
invadia a tenda da reunião; Moisés e Elias, figuras-símbolo da lei e dos
profetas, se fazem presentes para atestar que Jesus veio completar a história
da salvação. Mateus apresenta plasticamente aquilo que João, mais tarde, iria
expressar poeticamente: “A palavra se fez carne, armou sua tenda entre nós e
nós vimos sua glória” (Jo 1,14).
Como uma espécie de anúncio pascal antecipado,
revelando e confirmando a identidade profunda de Jesus, o filho amado de Deus,
o fato da transfiguração antecipa aos olhos dos discípulos a glória do Cristo e
os encoraja em sua missão, mas não tira nada da radicalidade do seguimento.
Jesus é servo e sua glória passa pela cruz. A palavra de ordem é seguir e
ouvir. Neste caminho, há exigências radicais, envolvendo a entrega da própria
vida. O relato da transfiguração aponta para o nosso destino vitorioso e nos
ensina a não ter medo e a não fugir dos sofrimentos que a nossa missão exige. A
glória revelada está em estreita conexão com a obediência à palavra. Escutar a
sua palavra passa a ser a forma suprema de adorá-lo e reverenciá-lo. O caminho
cristão é um caminho de seguimento e identidade com Jesus, de aprender com ele,
de ser filhos no Filho. O discípulo, iluminado pela palavra do Cristo, torna-se
um ícone vivo e permanente da glória do Senhor.
Na tradição das Igrejas, os catecúmenos são chamado de
“iluminandos”, isto é, os que se deixam transfigurar pela luz que vem de Deus.
Paulo aos romanos (Rm 13,11), assumindo este simbolismo batismal, fala da
armadura luminosa que o discípulo deve vestir. Não é à toa que, na celebração
do batismo, o(a) batizado(a) recebe a luz de Cristo. O símbolo da luz, presente
em todas as celebrações da comunidade, aponta para este aspecto de nossa
identidade cristã: em Jesus nos tornamos filhos e filhas da luz, para a glória
de Deus Pai.
(Extraído do Dia do Senhor)
Oração
Ó Senhor, nosso Deus,
que nos mandaste ouvir o teu Filho muito amado,
alimenta-nos sempre com a tua palavra, para que, com fé firme e pura,
tenhamos nossa alegria na glória de Cristo,
por quem te pedimos, na unidade do Espírito Santo.
Amém.
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