domingo, 31 de outubro de 2010

Hoje a salvação entrou nesta casa… (XXXI DTC - Ano C)

Em Jericó, havia um homem de pequena estatura, chamado Zaqueu. Por causa da multidão que acorria para ver Jesus, ele saiu correndo à frente e subiu numa árvore, um sicômoro, por onde, certamente, Jesus iria passar. Ao entrar em Jericó, Jesus viu Zaqueu, que estava sobre a árvore e lhe disse para descer porque iria hospedar-se em sua casa. Naquele momento, o cobrador de impostos foi chamado a ser seu discípulo. Zaqueu queria ver Jesus, mas é Jesus quem o vê. Para o judeu, o crer consistia no ouvir, interpretar; para o cristão, o ver. Por isso, os milagres de Jesus comprovavam a eficácia de sua ação.
 Zaqueu, nome que significa Deus se recorda ou também aquele que é puro, dependendo da etimologia, era um rico e odiado chefe dos cobradores de impostos. Um parceiro dos romanos na exploração do povo. Os judeus não gostavam dos compatriotas que assumiam tal função. Eles os viam como infiéis à Lei e, por isso, os consideravam pagãos e impuros.
Jesus diz a Zaqueu que iria se hospedar, entrar na sua casa. O substantivo casa vem do grego, oikos, e significa a casa do mundo e de cada ser humano no seu próprio corpo e no lugar onde ele habita. Oikos é a casa natal. Casa é invólucro de cada um de nós, a construção material onde ocorrem relações sociais e econômicas em função de uma família. Quanto melhor estiverem organizadas essas relações, melhor será a vida familiar. Os gregos, ao mencionar a casa, falam das relações econômicas domésticas, caseiras, que gerenciam a casa. E é daí que vem um outro termo grego, oikonomia, que significa a lei (nomos) que rege a casa (oikos), isto é, economia (Jacir de Freitas Faria, Economia e vida na casa da Bíblia, Vida Pastoral, 271, São Paulo: Paulus, 2010, p. 3-10).
 A função primeira de Zaqueu era cuidar da economia, do dinheiro do povo, que seria enviado para os romanos. Jesus, ao convidá-lo para ser o seu discípulo, estava ensinando que toda a economia que não estiver a serviço da vida não é querida por Deus. E Zaqueu logo compreendeu o sentido do chamado, ao afirmar que daria a metade dos seus bens para os pobres, bem como restituiria em quádruplo àqueles que ele defraudara. Desse modo, Zaqueu se declara um ladrão público.
 Os fariseus estavam preocupados com o fato de Jesus comer na casa de um pecador. E Jesus, de forma categórica, afirma que a salvação tinha entrado naquela casa e que Zaqueu era também filho de Abraão, como eles, os fariseus. A salvação é para todos os povos, todos que acreditam na proposta de Jesus e se convertem, como Zaqueu. 
(Extraído da revista Vida Pastoral)

Para refletir e partilhar:
1. Como a atitude de Zaqueu pode iluminar a vida cristã? O que o seu encontro com Jesus nos ensina?
2. "Hoje a salvação entrou nesta casa." Quando esta palavra de Jesus se realizou em sua vida? Ela continua se realizando? Como?
3. "A salvação é para todos os povos..." A sua comunidade busca acolher a todos/as, manifestando a salvação universal revelada em Jesus Cristo?

Oração 

Ó Deus, força que move e orienta nossas vidas,
escuta as nossas orações
e multiplica o pouco que somos,
segundo a medida do teu amor.
Como nada podemos em nossa fraqueza,
dá-nos o socorro da tua graça,
para que possamos agir sempre conforme a tua vontade
e caminhar com alegria na estrada dos teus mandamentos.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.

 
ODC
Deus vos salve, Deus
Deus vos salve, Deus
Deus salve esta casa (as pessoas, o universo...)
onde mora Deus, vos salve Deus.


sábado, 23 de outubro de 2010

Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador! (XXX DTC - Ano C)

O evangelho de hoje, na mesma linha do domingo anterior, é um ensinamento sobre a oração e a relação com Deus, tendo dois personagens profundamente diferentes: o fariseu e o publicano.

O farisaísmo, palavra que quer dizer “separado”, surgiu cerca de trezentos anos antes de Jesus e constituiu-se em um movimento de renovação profunda no judaísmo, pelo resgate da palavra de Deus na vida concreta das pessoas. Visto que a lei exprimia a vontade de Deus, ele não só a estuda nos mínimos detalhes, como a observa minuciosamente, escrupulosamente, todos os mandamentos e proibições, e até mais do que estava prescrito. O fariseu representa o justo, reconhecido como tal no judaísmo, não sendo egoísta nem preocupado consigo mesmo, mas atento ao futuro e às necessidades do povo.

Os publicanos ou coletores de imposto surgiram quando da dominação romana na Palestina e estão a serviço deste mesmo poder. São eles que coletam os impostos a serem enviados a Roma como forma de tributação. Eram considerados, pelos habitantes locais, como traidores do povo, com fama de ambiciosos e desonestos.

A conclusão da parábola, ao contar que o publicano, reconhecendo-se pecador, voltou justificado para a sua casa, e não o fariseu, quer ensinar que a oração e a relação com Deus não dependem dos nossos méritos e erros, mas da autenticidade e transparência com que conseguimos articulá-la. O publicano reconheceu sua pequenez e fez de sua própria pobreza a sua prece e uma entrega ao mistério de Deus, enquanto o fariseu, apesar de todos os seus méritos, tornou sua oração uma justificação de si mesmo.

Este gesto do publicano diante de Deus se atualiza em nossa celebração ao reconhecermos nosso pecado, no ato penitencial, e ao escutar e acolher a palavra que nos desvela e nos converte. A oração litúrgica nos educa a uma constante abertura ao mistério de Deus e a uma atenta vigilância, para que não nos fechemos em nós mesmos. Só Deus é justo e capaz de nos justificar diante dele. A salvação não depende da nossa santidade, mas da sua misericórdia.

(Extraído da Revista de Liturgia)

Para refletir e partilhar:
1. A partir deste Evangelho, como podemos caracterizar uma oração verdadeira? Qual deve ser a atitude de quem reza diante de Deus?
2. Como é a oração em sua comunidade?
3. Comente, "A salvação não depende da nossa santidade, mas da misericórdia de Deus". 


Oração

Senhor que vieste, não para condenar, mas para salvar, tem piedade de nós.
Senhor tem piedade de nós.
Cristo, que acolhes quem confia em tua misericórdia, tem piedade de nós.
Cristo, tem piedade de nós.
Senhor, que muito perdoas a quem muito ama, tem piedade de nós.
Senhor tem piedade de nós.

Deus todo amoroso,
tenha compaixão de nós,
perdoe os nossos pecados
e nos conduza à vida eterna.
Amém.


Misericordias domini in aeternum cantabo

(A misericórdia do Senhor, sempre, sempre eu cantarei)

Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor.
Para sempre proclamarei a sua fidelidade.
Os céus celebram as tuas maravilhas, Senhor!
Feliz o povo que sabe louvar e bendizer e caminhar à luz do teu rosto

sábado, 16 de outubro de 2010

E Deus não faria justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? (XXIX DTC - Ano C)


A parábola, contada como um ensinamento de Jesus sobre a oração, tem dois personagens que atuam e interagem: a viúva e o juiz. A viúva representa uma das classes mais oprimidas do tempo da bíblia, por ser mulher e por ser sozinha para sustentar os filhos. Tinha, por isso, uma proteção especial da lei. No entanto, constituíam um grupo especialmente exposto a abusos legais e judiciais, porque não podiam pagar nem subornar. O juiz em questão não temia a Deus nem respeitava as pessoas. Foi audaz atribuir a Deus a imagem de um juiz iníquo, mas a conclusão da parábola é clara: se um juiz injusto atende a causa de uma viúva indefesa, por que Deus não fará justiça aos seus, que o invocam?
Para os cristãos do tempo de Lucas, que esperavam para logo a vinda do Senhor, essa palavra tinha um sentido especial, pois o reino demorava a chegar. Diante dessa demora, era preciso perseverar na oração e invocar, com toda confiança, a chegada do dia do Senhor. A viúva insistente era a figura de um ideal muito caro às primeiras comunidades: a oração contínua, perseverante, sem nunca cessar.
O núcleo fundamental da nossa fé, não é a oração, mas o amor feito entrega e doação gratuita. Contudo, a oração é um sinal importante e indispensável, sem a qual todo o nosso serviço pode ficar reduzido à mera exterioridade. É nela que se expressa a intensidade da nossa relação gratuita e vital com Deus, fonte de todo amor, que nos faz, sempre de novo, ir ao seu encontro como pobres e pedir a ele, nossa última esperança, que faça sua justiça e nos liberte.
(Extraído da Revista de Liturgia)
Para refletir e partilhar:
1. De que maneira a atitude da viúva continua a nos inspirar hoje? Quem seria hoje as pessoas que como a viúva buscam valer a justiça?
2. A sua oração é fonte de sustentação na busca por justiça?  Ela está ligada com a dinâmica do Reino de Deus?
3. Com o tempo, você tem aprendido a rezar melhor? Explique.

Oração

Ó Deus da vida,
dá-nos, a cada dia,
a graça de estar sempre a teu dispor
e te servir com um coração indiviso.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.


Irmãs, vinde à oração, irmãos, vinde à oração.

sábado, 9 de outubro de 2010

Um deles voltou atrás, jogou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. (XXVIII DTC - Ano C)


Jesus, durante o ministério, que culmina em Jerusalém com a morte e a ressurreição, encontra e cura dez leprosos. Segundo Levítico 13,46, os leprosos moravam em lugares afastados e eram considerados impuros. Por isso, eles param à distância e de longe gritam: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! (v.13). Jesus vê os leprosos e os liberta da situação de exclusão que se encontram. Reintegrados à vida normal (Lv 14), podem a partir de então participar do culto. Assim, com a cura dos leprosos, Jesus propõe o resgate da vida social do povo. Somente um samaritano, ou seja, um estrangeiro reconheceu a misericórdia e a compaixão de Deus atuando em Jesus. Com sua atitude, expressa a fé em Jesus. O elogio de Jesus ao samaritano transforma-se em apelo a uma vida nova de compromisso com o evangelho. Deus oferece a graça da salvação a todas as pessoas. Mas é necessário abrir o coração para acolher com fé o dom de Deus manifestado a toda a humanidade. “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou (v.19).
Na 1ª leitura, Naamã, general do exército da Síria, é curado da lepra através da obediência à palavra profética e do banho ritual. Naamã retorna com sua comitiva ao profeta Eliseu, o homem de Deus, para agradecer-lhe a cura. Eliseu não aceita presentes, pois a cura, a salvação é dom gratuito de Deus. Naamã deixa-se transformar pelo Senhor, passando a adorá-lo como o Deus único e Salvador da vida. Com o salmista, louvemos ao Senhor, pois ele manifesta continuamente seu amor e salvação em todo o universo. A 2ª leitura acentua, através de um hino cristão primitivo, que a comunhão no sofrimento de Cristo leva a participar da glória de sua ressurreição.
Com uma atitude profunda de ação de graças experimentamos a salvação que é dada não somente a nós, mas a todos os povos e nações. Participando do mistério pascal do Senhor, somos transportados da morte à vida e habilitados a sermos sinais da graça divina para todas as pessoas.
 (Extraído da Revista de Liturgia)
Para refletir e partilhar:
1. Num mundo marcado por tantas notícias ruins e pelo vale-tudo dos interesses egoístas, as pessoas conseguem perceber a compaixão e misericórdia de Deus atuando no mundo? Onde elas continuam a atuar?
2. Você se sente tocado/a e cheio/a de gratidão pela graça de Deus atuando na sua vida e no mundo? Como você dá graças à Deus? Partilhe.

Oração

Ó Deus,
manifestas o teu poder, não pela força,
mas tratando-nos com imensa ternura e misericórdia,
continua a derramar sobre nós os dons da tua graça,
para que os nossos corações se encham da verdadeira alegria
que vem do teu Espírito.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.


Taizé 
Cantarei ao Senhor, enquanto viver.
Louvarei o meu Deus enquanto existir.
Nele encontro a minha alegria. (bis)

sábado, 2 de outubro de 2010

Senhor, aumenta a nossa fé! (XXVII DTC - Ano C)

Jesus utiliza a imagem do grão de mostarda, considerada a menor de todas as sementes, para transmitir sua mensagem. Os apóstolos, isto é, os enviados pedem ao Senhor o aumento da fé, diante dos desafios da missão. A fé, mesmo pequena como um grão de mostarda (v.6), fortalecida pela confiança total em Deus, torna-se grande. Quando autêntica, a fé possibilita criar o novo, fazer acontecer mudanças, aparentemente impossíveis. A imagem da árvore arrancada e plantada no mar representa a força eficaz da fé. A confiança, a fé na palavra de Jesus possibilita colocar-se a serviço do Reino, no amor e na gratuidade. Somos simples servos, chamados a trabalhar na busca e construção de uma sociedade solidária, justa, igualitária. Deus dará muito mais aos que esperam e confiam em sua graça, deixando de se considerar indispensáveis no serviço.
A 1ª leitura descreve a vocação profética de Habacuc, numa época de expansão do poder babilônico. Habacuc, no diálogo com o Senhor, apresenta um lamento, uma queixa, uma vez que está cercado de opressão, violência, discórdias e guerras. A resposta do Senhor manifesta-se na história através da ação daqueles que permanecem fiéis aos seus ensinamentos. O justo viverá por sua fidelidade (2,4). O salmo convida a escutar a voz de Deus, renovando a aliança de amor, o compromisso de permanecer em seus caminhos. Timóteo, na 2ª leitura, e toda a comunidade cristã, é exortado a reavivar o carisma, o ministério confiado por Deus. O Espírito de Deus nos fortalece e capacita para testemunharmos a Boa Nova de Jesus Cristo, o precioso bem que nos foi confiado.
Somos chamados a viver com fidelidade nossa vocação profética, como Habacuc, denunciando tudo o que se opõe ao projeto de amor e justiça de Deus. Que a nossa fé, revigorada pela palavra e pela eucaristia, persevere no testemunho do evangelho, construindo assim um mundo melhor, de paz e fraternidade
 (Extraído da Revista de Liturgia)
Para refletir e partilhar:
1. Sua fé já te ajudou a enfrentar e superar pequenos e grandes obstáculos?  Partilhe. Você também já se sentiu como os apóstolos dizendo, “Senhor, aumenta nossa fé!”?  Como conseguiu manter-se no caminho da fé?
2. Como a fé está relacionada ao serviço? Sua fé influencia suas escolhas políticas? Como?

Oração

Ó Deus, parceiro fiel da aliança,
renova a nossa fé e a alegria de ter servir.
Afasta de nós todo desânimo
e derrama sobre nós o teu amor e a tua força,
Porque sem ti, nada podemos fazer.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém.


Agostinha Vieira de Melo
Teu sol não se apagará,
tua lua não terá minguante,
porque o Senhor será tua luz,
ó Povo que Deus conduz!